Vinho do mês: um “Irequieto” elogio ao tempo e à família

Na estreia desta rubrica, pretendo trazer uma novidade e sublinhar a visão de Abel Codesso que juntamente com a Provam, nos traz um vinho para elogiar o tempo, a família, a história, as experiências e os laços que nos unem. Um vinho quase alegre e misterioso, para celebrar e nos rendermos. Nasceu para ser especial e para nos fazer descobrir. Esta é a minha escolha de novembro de 2021.

(No vinho do mês, só falarei de vinhos que provei ao longo desse mesmo mês (e que estão disponíveis no mercado) e que por alguma razão me marcaram)

O irrequieto que saiu “irequieto”

Eu não conhecia pessoalmente o Abel Codesso, mas quando me disseram que antes de uma visita agendada às Rias Baixas, íamos à Provam fazer uma prova de algo muito especial, fiquei curioso. Irrequieto, como diria Abel Codesso, é um bom nome para um vinho, especialmente para um que vem encarnar a sua visão ( e cá para nós, a sua personalidade) e experiência de mais de 25 anos a fazer vinhos. Uma ideia que a Provam abraçou com o enólogo.

Abel Codesso na Provam

Quanto ao nome: da família saiu o desenho para o rótulo, faltava um “r”, mas não faz mal. Família é família e o original é o original. 

O segredo do processo

O “irequieto” é provavelmente o Alvarinho mais desconcertante que já bebi. No nariz é tão complexo, que cada pessoa terá o prazer de associar a ele os mais variados aromas. Para mim, primeiro há um lado floral, depois de fruta cítrica e de banana (sim, há por aqui carvalho americano), mas podíamos dizer flor de laranjeira, chá, complementado com um ligeiro toque lácteo e maçã (aromas de oxidação, talvez). Mas, aqui está a beleza do processo, não vou entrar em termos técnicos, mas Abel Codesso fez deste vinho irrequieto nos aromas, através de um processo de vinificação (bem criativo, digo eu) complexo, onde o tempo é a chave.

Na boca é uma preenchida viagem no tempo

Ora na boca, a experiência é luxuriante (ia dizer exuberante, mas tem contenção), o vinho apresenta uma acidez envolvente (não é incisiva, não é rude) é aveludada, macia, mas intensa, e traz camadas de fruta, de aromas e sabores, preenchendo em toda a linha o nosso palato. Pois, é seco, salino, fresco, ao mesmo tempo que nos parece levar numa viagem através do tempo. Parece novo, é novo, mas depois não é assim tão novo, tem história, tem densidade, é profundo. Descobre-se a cada detalhe, a cada momento. Impressiona. É singular. 

O preço deste vinho rondará os 50 euros. Podemos dizer que é um preço elevado sim, mas que ao mesmo tempo justifica este valor. Não há nada igual. Se quiserem ver por outro lado, este não é um vinho egoísta, é um vinho de partilha, de homenagem, de momentos especiais, de prova em grupo e de discussão. Talvez assim, encontrem motivos para diluir os 50 euros e viajarem pelo tempo, pela mão de Abel Codesso.

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