Versatilidade a toda a linha marca o portfólio da Vinalda, que na celebração dos 75 anos, nos permitiu viajar por vinhos poderosos, vinhos que nos elevam, outros que nos pedem para sentar à mesa. Há vinhos para pensar e refletir e, enfim, outros que serão a alegria do dia-a-dia.
Para elevar, sonhar e degustar…
Eu sou apreciador de vinhos que me elevam, que me pedem silêncio depois da prova (numa espécie de vou viajar ali e já volto) que pela subtileza e elegância me conquistam. É por isto que adoro os vinhos da Quinta de Monte d’Oiro. É especial o projeto. Preferências? O recente ex-aequo 2017 é subtil, tem charme e um fim delicado, puro e profundo. 60 euros que pedem um tempinho mais de garrafa. Se não querem gastar tanto, deixem-se levar pelo Tinta Roriz 2019 (surpreende pela textura fina) ou pelo Reserva Tinto 2017. Não consigo escolher. Para os fãs de vinhos mais velhos, o Aurius – agora Touriga Nacional está em ótimo plano.
No lado da imponência
Se há um projeto para todos dominar (desculpem a analogia ao Senhor dos Anéis), temos que falar de Osvaldo Amado e do seu Raríssimo. Os novos tintos Raríssimo 2009, Dão e Bairrada, são portentosos.
Desta vez, gostei mais do Baga/Bairrada. Se quiserem saber mais, já os comentei antes (ver artigo). No portfólio Vinalda, dentro deste perfil, sublinho os Casa de Santar Vinha do Contador tinto, ou o 8 Parcelas. Mais uma vez, Osvaldo Amado tem a palavra. Não me compete dizer qual é melhor, a felicidade tem o seu preço e vias múltiplas. Não posso deixar de referir o Segredo de Saturno 2015, com fruta que se degusta e que toma conta do palato, em camadas bem profundas. No Douro, há espaço para falar do elegantíssimo e intenso Quinta da Gricha, da precisão e pureza do Talhão 8 (o Gricha, por sua vez, surpreende pela versatilidade).




Uma seta apontada ao futuro
Uma marca de sucesso deve ter bons, ou magníficos produtos, mas deve ser coerente, consistente e trabalhar continuamente rumo ao seu desígnio. Titan of Douro é uma estrela em ascensão.
Sublinho consistência do trabalho de Luís Leocádio: um projeto onde só há bons vinhos. Se não é o projeto mais versátil e consistente do Douro, andará perto.
Fragmentado Branco Blend II é estrondoso, na tensão, finesse, frescura e longevidade. Pureza em equilíbrio com um lado selvagem. O Tinto Estágio em Barro dá vontade de degustar mais e mais (vai bem sozinho, naquela vontade egoísta de beber mais e mais). O Estágio em Barro Branco é misterioso e aberto, alegre na forma com cria camadas no palato. O Vale dos Mil Branco e Tinto estão a belíssimo nível. A gama de entrada vai vender que nem ginjas. Ufa…Ah, e o Rosé?! Gastronómico, tenso e equilibrado.
Criatividade encontra ancestralidade com simplicidade única
Nas XXVI Talhas, um dos meus projetos favoritos, pela simplicidade, identidade e valorização do património, o XXVI (que estagia em ânfora, com cobertura de azeite) é a novidade. 90 euros para quem procura um vinho fresco, invulgar e com uma camada invulgar de complexidade. Para os aficionados. O vinho pede e melhora à mesa. o Titan do Tareco é vinho em harmonia, delicado, leve.
Já foram a Vila Alva? Não?! Então vão e visitem o Mestre Daniel e o Mestre Ricardo já agora.
Verdes em alta
Estar com o Miguel Queimado – Vale dos Ares , é sempre uma alegria boa, ao mesmo nível que conversar com ele sobre os seus Alvarinhos. Uma viagem de nuances, onde o poderoso Vinha da Coutada se destaca e o incrível “Borras Finas”, que é distintivo. Destaco também o Origem do projeto Cazas Novas. Quem procura um clássico, o Palácio da Brejoeira oferece um Alvarinho mais expansivo e aromático.Aqui o destaque vai para aguardente velha. Que classe.




Vinhos singulares: de Setúbal, Colares, Lisboa, Madeira e Trás-os-Montes
O projeto de António Saramago, nos brancos, oferece um interessante jogo entre Arinto e Antão Vaz, onde o lado cítrico encontra notas verdes e mais herbáceas, que nos secam o palato e nos pedem mais dessa frescura que nos amarra ao vinho. O destaque é o A.S. Tinto 2015 um vinho com estrutura, mas sempre alinhado com grande frescura. Pede carnes vermelhas e queijos bem amanteigados, que equilibrará lindamente. Colares Chitas Reserva Tinto é iguaria rara para ser apreciada, a casta Ramisco pede tempo, o vinho já se deixa levar, mas mais longevidade em garrafa fará o seu lado irreverente revelar notas atlânticas, com salinidade e especiarias que se revelam lentamente. No Casal da Azenha, Lisboa, registo para um arinto fora do vulgar, menos cítrico e ligeiro toque especiado que normalmente não sentimos. Na Madeira, realço o musculado e incisivo Ilha Verdelho, que é um vinho mordaz, que agarra, seca e refresca ao mesmo tempo: para a mesa. Em Trás-os-Montes, nas Terras de Mogadouro, o Gewurstraminer está cada vez melhor afinado (para quem procura algo invulgar, em Portugal). O Touriga Nacional parece-me um vinho muito bem definido.
Opções à medida de todos os dias
Cazas Novas Colheita, por 5,60 euros , uma excelente incursão no Avesso. Quinta da Alorna Reserva, seja o tinto Touriga Nacional com Cabernet Sauvignon, ou o Arinto Chardonnay, são ótimas opções, quando não queremos gastar mais do que 7 ou 8 euros. Vão parecer e revelar-se como vinhos acima do seu patamar de preço. Também nos brancos, o Churchills Grafite (12 euros) é um vinho que recomendo. Os Titan of Douro vão agradar, bem como toda a gama de entrada da Quinta do Monte d’Oiro.
Se pensar no preço, qualidade e experiência, o vinho do evento é o Vale dos Ares “Borras Finas”. 15 euros.
Se preço não for um assunto, então o meu top 3 é (sem ordem de preferência): Raríssimo Bairrada 2009, ex-Aequo Quinta do Monte d´Oiro e Titan of Douro Fragmentado Branco. *
*Nota: não provei o Vinha do Contador Branco. (já tinha acabado).
Para fechar, sublinho que estas são escolhas do momento e que amanhã bem poderiam ser diferentes, mas é também por isso que adoro provar vinhos. Cada dia e cada vinho têm uma estória.