Quinta do Crasto: a paisagem e os vinhos em uníssono
Paisagem e vista de cortar a respiração (faça-se um segundo de silêncio), vinhos de superior qualidade, que nos elevam e nos fazem viajar pelas vinhas e o charme na dose certa. Há momentos que nos sentimos com sorte. A minha estreia na Quinta do Crasto não podia ter sido melhor.
(Antes de continuar quero agradecer ao Francisco Rebello de Andrade pelo desafio e ao Pedro Guedes de Almeida pela simpatia e pela forma sublime como nos recebeu).
Antes dos vinhos, vamos ao cenário. O sol recomenda-se e torna todo o cenário ainda mais especial. Uau.
A vista é tão tão boa que nos sentimos de imediato um fotógrafo de primeira categoria. Difícil não gastar toda a bateria do telefone a registar os primeiros momentos.
Agora sim, podemos ir aos vinhos. Começámos por provar a gama de vinhos no mercado, desde o Quinta do Crasto (gama de entrada, se quiserem) até aos monocastas. Há um traço identitário nos vinhos. Há. E digo que tudo começa na vinha e na seleção da fruta. Todos os vinhos primam por uma pureza de fruta incrível. O que é que isso quer dizer? Imaginem uma orquestra onde conseguem capturar o som de cada instrumento de forma clara, límpida, cristalina. Feita a analogia. Podemos pegar no morango, na cereja e perceber a sua dimensão, frescura em tons vibrantes.
Nos vinhos brancos, assumo ligeira preferência pelo Crasto 2021, relativamente ao Crasto Superior 2021. Por que razão? A frescura é mais evidente, apesar de menos complexo. O Superior precisa de um pouco mais de tempo para uma melhor integração de alguns aromas da barrica. Sublinho que o lado “mineral” deste vinho o torna muito prazeroso também.
A surpresa foi o Crasto Rosé 2022, com equilíbrio entre o vibrar da fruta vermelha, muito elegante e com a acidez necessária para ser versátil. Sozinho ou acompanhado vai muito muito bem. O preço abaixo de 10 euros. Recomendo. A mudança na garrafa e a cor do vinho impressionam e fazem disparar as vendas.



Nos tintos, sublinho a profundidade de aromas do Crasto 2020 (excelente opção na sua gama de preço), porém aqui inclino-me mais para Superior onde há mais camadas e profundidade. Agora, perante o pouco consensual (face ao que leio pela internet), o Crasto Altitude 430 de 2020 é um vinho mais elegante, para quem procura leveza, frescura, sem perder o potencial gastronómico. Pessoalmente, gosto mais do 2019, que é um pouco mais incisivo e nervoso, o 2020 arredonda os momentos e deixa-se levar. Perigoso. Já o Superior Syrah 2020 agradou-me imenso pela fruta viva e pelo jogo constante entre fruta vermelha e fruta preta, sempre com as especiarias a provocarem o nosso palato. É bom, é bem bom. Compraria? Sim.
O Reserva Vinhas Velhas 2020 é um ícone, cheira e sabe a tradição, é o Douro e a Quinta do Crasto fundidos numa identidade que perdura no tempo. Mais sério, afirmativo, onde a precisão da fruta vermelha procura uma fusão equilibrada com a barrica bem presente. Ou seja, quem gosta de um Douro tradicional vai adorar. Tem equilíbrio, tanino, complexidade.
Nos monocastas, subimos de patamar: em precisão, prazer e preço. Para mim, o Touriga Nacional 2018 é um dos melhores do mercado. É de um perfume e aroma únicos, puro, puro, puro. Pedro Guedes de Almeida explicou que se deverá ao facto de usarem um antigo clone chamado de “Tourigão” (simplificando: uma versão menos produtiva e ao mesmo tempo mais singular da casta).

O meu preferido foi o Touriga Franca 2018. Tem um lado selvagem: gosto muito! É intenso, vibrante, muito fresco, com tanino que provoca e que equilibra. Vinho para divertir e fazer feliz o palato nas mais variadas harmonizações gastronómicas. O Tinta Roriz 2018 alia a potência a uma textura particular: que tem tanto de fina (pela acidez), como de volume e tanino que oferece textura na boca. Diria que é daqueles vinhos para quem sabe o que quer. Não há desvios. É preciso e profundo.












Prosseguimos, depois com uma visita e almoço, com vinhos servidos às cegas. Importa salientar a longevidade destes vinhos, mesmo nas gamas de entrada, quer nos brancos quer nos tintos. Apreciadores de vinhos com alguma idade vão gostar. Apesar de termos fechado o dia com um Tawny e um Vintage que se revelam à altura dos vinhos de mesa, o momento foi a prova da Vinha da Maria Teresa 2013 e o Vinha da Ponte 2012 – ícones da marca, que se mostram ainda jovens e com muitos anos pela frente.
Estes exemplares, ambos com mais de 10 anos, arrebatam-nos pela incrível vivacidade, pureza e profundidade, prometendo melhorar ainda mais nos anos vindouros.
Como será uma prova vertical destes vinhos? (pergunta em forma de desejo!) Como são vinhos de um preço elevado para o nosso mercado, fica a nota para quem quer investir: anos mais quentes – o Vinha da Maria Teresa (orientação a Oeste) sairá privilegiado. Em anos mais frios, a exposição a Sul da Vinha da Ponte poderá ser mais promissora.
A memória que fica é que a Quinta do Crasto é um sinónimo de coerência, consistência e muita pureza que resulta do trabalho de viticultura e seleção da uva para os vinhos. Na visita impressionou-me a atenção ao detalhe, sempre acompanhada de simpatia e saber receber. O charme e simplicidade, com uma vista sublime, tudo em uníssono.