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10 inesperados vinhos para o Natal

Hoje o tema são propostas inesperadas que poderão alegrar o vosso Natal e que, de alguma forma, me marcaram a mim durante o ano. Prometi a mim mesmo que não ia deixar passar este período, sem dar algumas propostas para esta quadra. E por onde começar? Por vinhos que fazem a diferença.

As propostas vão para vários preços, mas lembrem-se, aqui o tema é ser inesperado, criativo, irreverente ou um pouco mais velho, sem repetir regiões. Foram todos vinhos que provei e que me deram prazer tanto no palato, como na criatividade, longevidade ou precisão. É também uma ótima forma de elogiar o trabalho de alguns produtores. Seguramente vou esquecer-me de muitos, por isso aproveitarei para lançar mais temas (se o tempo deixar) nos próximos dias.

Apresento a lista por ordem de preço.

  1. Alto da Lousa Reserva Branco Doc – Arinto & Riesling (Beira Interior)  | Preço: 7,95 euros (ver Garrafeira Nacional)
  2. Quinta de Lemos Dona Louise 2006 (Dão) | Preço 12,5 Euros  (Ver WineBox4You)
  3. Sem Igual 2019 (Vinhos Verdes)  | Preço: 12,5 euros (ver Vinhedo.pt )
  4. Raspanete Cabernet Sauvignon Tinto 2018 (Lisboa) | Preço: 19 euros (ver Unique Wines)
  5. Alto do Joa 2018 Branco (Trás-os-Montes) | Preço: 19 euros (ver El Corte Inglés)
  6. Casal das Aires Chardonnay 2018(Tejo) | Preço 20,90 Euros (ver Garrafeira Nacional)
  7. Vadio Solera Bruto Espumante (Bairrada) | Preço: 19,90 euros (ver Vinha.pt )
  8. Quinta dos Tourais Lilipop Tinto Cão 2018 (Douro) | Preço: 23,50 euros (ver Wineabe.pt )
  9. Largueza  2017 (Alentejo) | Preço: 29,90 euros (ver Vinhedo.pt )
  10. Arinto dos Açores “sur Lies” (Açores) | Preço: 30 euros (ver Decantify )

Nota: todos os vinhos foram bebidos/provados durante o ano de 2021.

Vinho do mês: um “Irequieto” elogio ao tempo e à família

Na estreia desta rubrica, pretendo trazer uma novidade e sublinhar a visão de Abel Codesso que juntamente com a Provam, nos traz um vinho para elogiar o tempo, a família, a história, as experiências e os laços que nos unem. Um vinho quase alegre e misterioso, para celebrar e nos rendermos. Nasceu para ser especial e para nos fazer descobrir. Esta é a minha escolha de novembro de 2021.

(No vinho do mês, só falarei de vinhos que provei ao longo desse mesmo mês (e que estão disponíveis no mercado) e que por alguma razão me marcaram)

O irrequieto que saiu “irequieto”

Eu não conhecia pessoalmente o Abel Codesso, mas quando me disseram que antes de uma visita agendada às Rias Baixas, íamos à Provam fazer uma prova de algo muito especial, fiquei curioso. Irrequieto, como diria Abel Codesso, é um bom nome para um vinho, especialmente para um que vem encarnar a sua visão ( e cá para nós, a sua personalidade) e experiência de mais de 25 anos a fazer vinhos. Uma ideia que a Provam abraçou com o enólogo.

Abel Codesso na Provam

Quanto ao nome: da família saiu o desenho para o rótulo, faltava um “r”, mas não faz mal. Família é família e o original é o original. 

O segredo do processo

O “irequieto” é provavelmente o Alvarinho mais desconcertante que já bebi. No nariz é tão complexo, que cada pessoa terá o prazer de associar a ele os mais variados aromas. Para mim, primeiro há um lado floral, depois de fruta cítrica e de banana (sim, há por aqui carvalho americano), mas podíamos dizer flor de laranjeira, chá, complementado com um ligeiro toque lácteo e maçã (aromas de oxidação, talvez). Mas, aqui está a beleza do processo, não vou entrar em termos técnicos, mas Abel Codesso fez deste vinho irrequieto nos aromas, através de um processo de vinificação (bem criativo, digo eu) complexo, onde o tempo é a chave.

Na boca é uma preenchida viagem no tempo

Ora na boca, a experiência é luxuriante (ia dizer exuberante, mas tem contenção), o vinho apresenta uma acidez envolvente (não é incisiva, não é rude) é aveludada, macia, mas intensa, e traz camadas de fruta, de aromas e sabores, preenchendo em toda a linha o nosso palato. Pois, é seco, salino, fresco, ao mesmo tempo que nos parece levar numa viagem através do tempo. Parece novo, é novo, mas depois não é assim tão novo, tem história, tem densidade, é profundo. Descobre-se a cada detalhe, a cada momento. Impressiona. É singular. 

O preço deste vinho rondará os 50 euros. Podemos dizer que é um preço elevado sim, mas que ao mesmo tempo justifica este valor. Não há nada igual. Se quiserem ver por outro lado, este não é um vinho egoísta, é um vinho de partilha, de homenagem, de momentos especiais, de prova em grupo e de discussão. Talvez assim, encontrem motivos para diluir os 50 euros e viajarem pelo tempo, pela mão de Abel Codesso.

A Adega do Monte de Branco: caráter, loucura e alento

Vinhos com caráter é a promessa da Adega do Monte Branco e eu vou acrescentar com arrojo, presença criatividade, frescura e muito equilíbrio. O projeto de Luís Louro, iniciado em 2004, em Estremoz, partilhado na enologia com Inês Capão, traz-nos uma curiosa identidade, onde a potência e frontalidade, encontra a elegância e o refinamento. A sintonia entre os dois enólogos é indisfarçável e só torna os vinhos mais interessantes. 

Depois, de uma Wine Session há alguns meses, uma visita de amigos proporcionou um almoço inesquecível na Adega do Monte Branco, mas acima de tudo uma partilha com vista para a vinha e um conhecimento mais apurado dos vinhos. E é disso mesmo que vou falar e resumir as minhas preferências e indicações em 3 vinhos (ou 4 como irão ver).

Começar com Alento

A gama Alento marca o início da viagem pelos vinhos. Branco ou rosé? Para mim, claramente o branco 2020. Porquê? Porque é fresco, a acidez dá amplitude ao vinho na boca (imaginem que o vinho se abre na boca e percorre todo o vosso palato, ao mesmo tempo que sentimos notas cítricas e minerais (pedra molhada se preferirem) bem presentes, que dão um bom equilíbrio entre acidez e fruta. O que explica isto? O trabalho realizado na vinha, a vindima feita no tempo certo, solo calcário e, claro, a seleção de castas e a procura por uma identidade, um Alentejo de brancos que se deixa beber e que nos refrescam da cabeça aos pés. O facto de salientar o branco, não implica que não tenha gostado do Rosé, mas é preciso fazer opções. Nos tintos, o Alento Reserva é já uma ótima opção de um tinto com alguma potência e frescura que vai agradar a muitos, mas nos tintos a minha preferência cai noutro lado e numa gama mais acima – para apreciadores. O preço da gama Alento começará nos 7 euros, aproximadamente. O reserva andará pelos 12.

A loucura e genialidade

Se é o “grau de sucesso que separa a loucura de genialidade”, a série limitada LouCa (Louro+Capão), são projetos pessoais de cada um dos enólogos, onde há liberdade para cada um individualmente criar, experimentar, brincar e até provocar. Costumo dizer que a criatividade é um risco, nem sempre corre bem, mas é assim que evoluímos e descobrimos o que está para lá dos limites.

O LouCa 2017, que já tinha provado antes, é de chorar por mais. Tem o tal caráter, tem um volume de boca e uma espécie de untuosidade fresca, com uma amplitude e acidez incisivas. É tenso, viciante, mas não é agressivo e tem uma complexidade que nos faz descobrir aromas como lima (ou limão), maçã, favo de mela, especiarias como pimenta branco…enfim, não vos vou maçar, pois é um recital que cada pode descobrir. É um vinho de 28 euros que vale cada cêntimo. A edição é limitada. É um vinho extraordinariamente gastronómico, mas que saberá sempre bem simples, com um queijo e que dará origem a grandes conversas, ou que acompanhará bem o meditativo por do sol alentejano

O LouCA é para mim dos melhores vinhos brancos do Alentejo.

A potência e o equilíbrio

O Monte Branco 2017 tinto, se não considerarmos a edição comemorativa dos 10 anos, está no topo da lista dos vinhos da adega. Para mim, neste vinho é onde encontramos mais a marca de Luís Louro, pois a personalidade forte do enólogo está presente que alia a potencia e intensidade, a alguma acidez, fruta preta e algum toque de especiarias. Um vinho pleno de precisão, onde conseguimos definir em concreto cada nuance. O final é longo e persistente. A acidez presente vai pedir provavelmente um provador mais experimentado. Um grande vinho do Alentejo que nos consegue aliar a potência e intensidade de aromas, a um lado com mais charme. Em tom de brincadeira, mas falando bem a sério, é um vinho para quem sabe o que quer. Entre o 2016 e o 2017, prefiro o 2017. O preço rondará os 38 euros.

Se não conhecem este projeto, é obrigatório. A Adega do Monte Branco tem marcado pontos na exportação, mas está no momento de nós portugueses, conhecermos mais deste projeto. Se puderem, visitem, se não puderem então bebam, provem, partilhem. Eu recomendo.