Sugestões

O bom, o mau e o “old school”. Um vinho orgulhosamente imperfeito.

Inesperado. Incorrigível. Irreverente. Intenso. Indelével. 😮O Horácio Simões 2016 Old School Branco é tudo isto e mais alguma coisa. Loucura ou genialidade? Talvez não seja o bom, nem o mau, mas o vilão que nos diverte.

Horácio Simões Old School Branco 2016

Se quiserem, metaforicamente, é um Frankenstein dos vinhos, nasce com defeito, fica a dormir 5 anos e torna-se humano e não ficamos indiferentes, toca-nos, mesmo que não se goste.

É saborear a evolução da imperfeição, é um vinho que não cabe numa região (não é um DOC, pois não foi aprovado como tal – é um IVV”), é um proscrito (ler a ironia no contra-rótulo). Um fora-da-lei, aquele que quebra as regras, nunca vai ser consensual, cria conflito e gera emoções.

Para mim é viciante. A cor dourada, oxidada anuncia tempo, velhice antecipada. O aroma é uma viagem paradoxal, da idade avançada para a juventude.

O contra-rótulo merece leitura atenta

Se calhar não é Frankenstein, é um Benjamin Button, quanto mais tempo passa mais novo fica.

Na boca, esqueçam tudo o que disse, é voraz é mesmo “old school”, é artesanal, é musculado é frescura e acidez romper os aromas terciários (maçã, toque oxidado, quase petrolado), com volume de boca oferecido pelo estágio em barrica (que dá aromas subtis) e pela batonnage que dá camadas de sabor. Um vinho que fala e que conversa sério. Para a mesa e para as conversas sem tempo.

Consistência? As várias garrafas que bebi ou provei estavam no mesmo patamar. Com a imperfeição que se quer para este vinho.

Nao será consensual, mas o enófilo curioso e experimentado vai com certeza recordar. É único. Tem personalidade.

18 a 20 euros o preço? Se vale? Digam-me quanto vale uma viagem no tempo, sem sair do lugar (por mais sinuosa que está possa ser). Ah, a casta: Boal do Barreiro.

Um grande vinho, orgulhoso e destemido.

Vinalda Experience | Vinhos com conta, peso e à medida

Versatilidade a toda a linha marca o portfólio da Vinalda, que na celebração dos 75 anos, nos permitiu viajar por vinhos poderosos, vinhos que nos elevam, outros que nos pedem para sentar à mesa. Há vinhos para pensar e refletir e, enfim, outros que serão a alegria do dia-a-dia.

Para elevar, sonhar e degustar…

Eu sou apreciador de vinhos que me elevam, que me pedem silêncio depois da prova (numa espécie de vou viajar ali e já volto) que pela subtileza e elegância me conquistam. É por isto que adoro os vinhos da Quinta de Monte d’Oiro. É especial o projeto. Preferências? O recente ex-aequo 2017 é subtil, tem charme e um fim delicado, puro e profundo. 60 euros que pedem um tempinho mais de garrafa. Se não querem gastar tanto, deixem-se levar pelo Tinta Roriz 2019 (surpreende pela textura fina) ou pelo Reserva Tinto 2017. Não consigo escolher. Para os fãs de vinhos mais velhos, o Aurius – agora Touriga Nacional está em ótimo plano.

No lado da imponência

Se há um projeto para todos dominar (desculpem a analogia ao Senhor dos Anéis), temos que falar de Osvaldo Amado e do seu Raríssimo. Os novos tintos Raríssimo 2009, Dão e Bairrada, são portentosos.

Desta vez, gostei mais do Baga/Bairrada. Se quiserem saber mais, já os comentei antes (ver artigo). No portfólio Vinalda, dentro deste perfil, sublinho os Casa de Santar Vinha do Contador tinto, ou o 8 Parcelas. Mais uma vez, Osvaldo Amado tem a palavra. Não me compete dizer qual é melhor, a felicidade tem o seu preço e vias múltiplas. Não posso deixar de referir o Segredo de Saturno 2015, com fruta que se degusta e que toma conta do palato, em camadas bem profundas. No Douro, há espaço para falar do elegantíssimo e intenso Quinta da Gricha, da precisão e pureza do Talhão 8 (o Gricha, por sua vez, surpreende pela versatilidade).

Uma seta apontada ao futuro

Uma marca de sucesso deve ter bons, ou magníficos produtos, mas deve ser coerente, consistente e trabalhar continuamente rumo ao seu desígnio. Titan of Douro é uma estrela em ascensão.

Sublinho consistência do trabalho de Luís Leocádio: um projeto onde só há bons vinhos. Se não é o projeto mais versátil e consistente do Douro, andará perto.

Fragmentado Branco Blend II é estrondoso, na tensão, finesse, frescura e longevidade. Pureza em equilíbrio com um lado selvagem. O Tinto Estágio em Barro dá vontade de degustar mais e mais (vai bem sozinho, naquela vontade egoísta de beber mais e mais). O Estágio em Barro Branco é misterioso e aberto, alegre na forma com cria camadas no palato. O Vale dos Mil Branco e Tinto estão a belíssimo nível. A gama de entrada vai vender que nem ginjas. Ufa…Ah, e o Rosé?! Gastronómico, tenso e equilibrado.

Criatividade encontra ancestralidade com simplicidade única

Nas XXVI Talhas, um dos meus projetos favoritos, pela simplicidade, identidade e valorização do património, o XXVI (que estagia em ânfora, com cobertura de azeite) é a novidade. 90 euros para quem procura um vinho fresco, invulgar e com uma camada invulgar de complexidade. Para os aficionados. O vinho pede e melhora à mesa. o Titan do Tareco é vinho em harmonia, delicado, leve.

Já foram a Vila Alva? Não?! Então vão e visitem o Mestre Daniel e o Mestre Ricardo já agora.

Verdes em alta

Estar com o Miguel Queimado – Vale dos Ares , é sempre uma alegria boa, ao mesmo nível que conversar com ele sobre os seus Alvarinhos. Uma viagem de nuances, onde o poderoso Vinha da Coutada se destaca e o incrível “Borras Finas”, que é distintivo. Destaco também o Origem do projeto Cazas Novas. Quem procura um clássico, o Palácio da Brejoeira oferece um Alvarinho mais expansivo e aromático.Aqui o destaque vai para aguardente velha. Que classe.

Vinhos singulares: de Setúbal, Colares, Lisboa, Madeira e Trás-os-Montes

O projeto de António Saramago, nos brancos, oferece um interessante jogo entre Arinto e Antão Vaz, onde o lado cítrico encontra notas verdes e mais herbáceas, que nos secam o palato e nos pedem mais dessa frescura que nos amarra ao vinho. O destaque é o A.S. Tinto 2015 um vinho com estrutura, mas sempre alinhado com grande frescura. Pede carnes vermelhas e queijos bem amanteigados, que equilibrará lindamente. Colares Chitas Reserva Tinto é iguaria rara para ser apreciada, a casta Ramisco pede tempo, o vinho já se deixa levar, mas mais longevidade em garrafa fará o seu lado irreverente revelar notas atlânticas, com salinidade e especiarias que se revelam lentamente. No Casal da Azenha, Lisboa, registo para um arinto fora do vulgar, menos cítrico e ligeiro toque especiado que normalmente não sentimos. Na Madeira, realço o musculado e incisivo Ilha Verdelho, que é um vinho mordaz, que agarra, seca e refresca ao mesmo tempo: para a mesa. Em Trás-os-Montes, nas Terras de Mogadouro, o Gewurstraminer está cada vez melhor afinado (para quem procura algo invulgar, em Portugal). O Touriga Nacional parece-me um vinho muito bem definido.

Opções à medida de todos os dias

Cazas Novas Colheita, por 5,60 euros , uma excelente incursão no Avesso. Quinta da Alorna Reserva, seja o tinto Touriga Nacional com Cabernet Sauvignon, ou o Arinto Chardonnay, são ótimas opções, quando não queremos gastar mais do que 7 ou 8 euros. Vão parecer e revelar-se como vinhos acima do seu patamar de preço. Também nos brancos, o Churchills Grafite (12 euros) é um vinho que recomendo. Os Titan of Douro vão agradar, bem como toda a gama de entrada da Quinta do Monte d’Oiro.

Se pensar no preço, qualidade e experiência, o vinho do evento é o Vale dos Ares “Borras Finas”. 15 euros.

Se preço não for um assunto, então o meu top 3 é (sem ordem de preferência): Raríssimo Bairrada 2009, ex-Aequo Quinta do Monte d´Oiro e Titan of Douro Fragmentado Branco. *
*Nota: não provei o Vinha do Contador Branco. (já tinha acabado).

Para fechar, sublinho que estas são escolhas do momento e que amanhã bem poderiam ser diferentes, mas é também por isso que adoro provar vinhos. Cada dia e cada vinho têm uma estória.

Vinhos a recordar no Enóphilo 2022

Vamos ser claros: provar tudo, tudo, tudo no Enóphilo é impossível, se a isto somar a ida a duas maravilhosas provas comentadas, menos tempo fica para uma profunda e exaustiva prova de todas as referências. Difícil é escolher, tal a boa oferta. Ainda assim, foi profícuo (fiz o meu trabalho, ou prazer se quiserem) e acho que merece partilhar com vocês umas linhas sobre novidades, destaques e aquilo de que gostei mais e algumas descobertas. Vamos a isso?

Se o que é bom fica na memória, então começo pelo inesperado Quinta da Biaia Fonte de Vila 2017. Aquela tensão crocante, com uma profundidade de aromas cítricos e complexidade qb, fazem deste vinho uma experiência longa, aprazível e…viciante. Ronda os 35 euros, parece-me mais do que justo.

Passando agora a dois portentosos vinhos (Osvaldo Amado realmente não brinca em serviço), o Raríssimo Dão (2009) é um tratado de bem fazer bem. É profundo, elegante, camadas e camadas de saborosa complexidade entre fruta vermelha ainda com frescura e aromas ligeiramente tostados e de fruta em transformação. Escolher entre o Dão e o Bairrada/Baga tinto (2009) é díficil. O Baga é mais potente e oferece uma mordaz acidez, profundidade e aromas de fruta preta. Venha lá o diabo e escolha. O preço é para aficionados – ronda os 80/90 euros

Falando de elegância e vinhos que seduzem pela sensibilidade com que nos conquistam, o Casal das Aires Vinhas Velhas Branco 2019, é uma linda e inesperada opção. O preço de 40 euros ilustra a qualidade de um vinho que mostra finesse.

Se procuram o diferente e de fazer inveja a muitas referências do Douro, o Zuccaro 2018, podia ser um Brunello di Montalcino, só que não. É um grande trabalho, num vinho de estrutura, complexidade, que gosta e pede momentos importante e conversa séria. 60 euros o preço.

Se o prémio fosse precisão e pureza, então Carlos Raposo e o seu definido branco estava na linha da frente. Um grande vinho branco. Preço ronda os 25 euros. Aliás, todo o projeto se pauta por uma identidade e linha condutora, que qualquer vinho deste projeto merece ser provado e degustado.

Nos espumantes, o novo Terrunho d’ Alma 2018 , do enólogo, José Domingues está de uma elegância fantástica, a confirmar o grande trabalho feito no 2016. De chorar por mais, pela bolha elegante e frescura. Gostei muito do novo espumante do Joaquim Arnaud no qual sublinho a elegância da bolha e o equilíbrio em toda a linha. Grande trabalho. Os preços de ambos devem rondar os 15/20 euros. Não posso deixar de referir a consistência da Quinta dos Abibes Arinto & Baga, sempre equilibrado.

Pelo Dão, importa falar do excelente trabalho que continua a fazer João Gouveia Osório e a sua Portugal Wine Firm. O Ayres é um branco de uma frescura e mineralidade que nos atravessa, acidez fina e precisa. Tenho que mencionar o Invês, a parceria deste produtor com Henrique Cizeron (Cizeron Wines), um branco que apesar de jovem, mostra camadas e algum mistério. O Rosa da Mata Tinto/ Alfrocheiro está de beber por mais, difícil parar de beber esse vinho que está num momento fantástico, onde a fruta vermelha é elevada e bebida num misto de diversão e propriedade. Não posso deixar de mencionar, que o Primado 2012 (20 euros) é sublime e um vinho de enorme classe. Precisarão de duas garrafas.

“Constantino aquele Pét Nat Tinto, está bem bom”.

Ah, e coisas malucas e criativas? Vamos lá falar do trabalho do Constantino Ramos que não se cansa de nos fazer viajar pelas raízes. O Pét Nat tinto – que belo aperitivo, que fruta sedutora. Ótimo para quando não vos apetecer uma cerveja e querem algo diferente. O Turra Craft branco (11 euros) é também assim uma coisa muito fora do vulgar, meio experimental, mas onde o equilíbrio entre acidez e diferentes aromas se revela uma surpresa no palato. Outro marca que continua a fazer a diferença, é a Quinta Costa do Pinhão, onde para mim o ” Marufo” (17,5 euros) continua a ser uma delícia e um “personal favourite” (desculpem o anglicismo). Em modo fim de festa, ainda provei o Gutta Supera da Quinta do Paral que nos agarra pela viagem em nuances de fruta tropical e cítrica. (16 euros)

Nos Alvarinhos, o Regueiro Maturado (22/23 euros), o Afluente 2021 (este ano mais mineral/20 euros ), o Terrunho 2018 (18/20 euros), os Casa do Capitão-Mor (12/14 euros) & Quinta de Paços Alvarinho (muito elegente), e o Álvaro Pequenino de Joaquim Arnaud (12 euros), da região de Lisboa, foram as minhas preferências. Nos Loureiros (que in loco, deu uma disputa bem engraçada), eu aposto no arrojo cortante do Parapente (25 euros), no equilíbrio do Quinta do Hospital (8 euros), na rusticidade cítrica do Terrunho (7,90). O Cinética será um ótimo Loureiro, mas precisa de tempo. Neste projeto Henrique Cizeron, sublinho a incursão transmontana de Henrique Cizeron, que eu não conhecia, que oferece um jogo entre leveza e concentração de fruta que apetece saborear e faz salivar. (16/17 euros)

Uma palavra final, para as excelentes provas verticais da Quinta de Paços/Casa do Capitão-Mor, onde Paulo Graça Ramos nos ofereceu mais de duas décadas de viagem por Alvarinhos inesquecíveis e onde Joana Pinhão nos fez celebrar 10 anos de Somnium, nos cedeu um bocadinho do seu conhecimento e, já fora da prova, nos mostrou a novidade de solo Granítico que impressiona pela frescura.

Excelente organização, num evento que mostra crescimento e um trabalho cada vez mais apurado de Luís Gradíssimo.

10 inesperados vinhos para o Natal

Hoje o tema são propostas inesperadas que poderão alegrar o vosso Natal e que, de alguma forma, me marcaram a mim durante o ano. Prometi a mim mesmo que não ia deixar passar este período, sem dar algumas propostas para esta quadra. E por onde começar? Por vinhos que fazem a diferença.

As propostas vão para vários preços, mas lembrem-se, aqui o tema é ser inesperado, criativo, irreverente ou um pouco mais velho, sem repetir regiões. Foram todos vinhos que provei e que me deram prazer tanto no palato, como na criatividade, longevidade ou precisão. É também uma ótima forma de elogiar o trabalho de alguns produtores. Seguramente vou esquecer-me de muitos, por isso aproveitarei para lançar mais temas (se o tempo deixar) nos próximos dias.

Apresento a lista por ordem de preço.

  1. Alto da Lousa Reserva Branco Doc – Arinto & Riesling (Beira Interior)  | Preço: 7,95 euros (ver Garrafeira Nacional)
  2. Quinta de Lemos Dona Louise 2006 (Dão) | Preço 12,5 Euros  (Ver WineBox4You)
  3. Sem Igual 2019 (Vinhos Verdes)  | Preço: 12,5 euros (ver Vinhedo.pt )
  4. Raspanete Cabernet Sauvignon Tinto 2018 (Lisboa) | Preço: 19 euros (ver Unique Wines)
  5. Alto do Joa 2018 Branco (Trás-os-Montes) | Preço: 19 euros (ver El Corte Inglés)
  6. Casal das Aires Chardonnay 2018(Tejo) | Preço 20,90 Euros (ver Garrafeira Nacional)
  7. Vadio Solera Bruto Espumante (Bairrada) | Preço: 19,90 euros (ver Vinha.pt )
  8. Quinta dos Tourais Lilipop Tinto Cão 2018 (Douro) | Preço: 23,50 euros (ver Wineabe.pt )
  9. Largueza  2017 (Alentejo) | Preço: 29,90 euros (ver Vinhedo.pt )
  10. Arinto dos Açores “sur Lies” (Açores) | Preço: 30 euros (ver Decantify )

Nota: todos os vinhos foram bebidos/provados durante o ano de 2021.