Vinho

O bom, o mau e o “old school”. Um vinho orgulhosamente imperfeito.

Inesperado. Incorrigível. Irreverente. Intenso. Indelével. 😮O Horácio Simões 2016 Old School Branco é tudo isto e mais alguma coisa. Loucura ou genialidade? Talvez não seja o bom, nem o mau, mas o vilão que nos diverte.

Horácio Simões Old School Branco 2016

Se quiserem, metaforicamente, é um Frankenstein dos vinhos, nasce com defeito, fica a dormir 5 anos e torna-se humano e não ficamos indiferentes, toca-nos, mesmo que não se goste.

É saborear a evolução da imperfeição, é um vinho que não cabe numa região (não é um DOC, pois não foi aprovado como tal – é um IVV”), é um proscrito (ler a ironia no contra-rótulo). Um fora-da-lei, aquele que quebra as regras, nunca vai ser consensual, cria conflito e gera emoções.

Para mim é viciante. A cor dourada, oxidada anuncia tempo, velhice antecipada. O aroma é uma viagem paradoxal, da idade avançada para a juventude.

O contra-rótulo merece leitura atenta

Se calhar não é Frankenstein, é um Benjamin Button, quanto mais tempo passa mais novo fica.

Na boca, esqueçam tudo o que disse, é voraz é mesmo “old school”, é artesanal, é musculado é frescura e acidez romper os aromas terciários (maçã, toque oxidado, quase petrolado), com volume de boca oferecido pelo estágio em barrica (que dá aromas subtis) e pela batonnage que dá camadas de sabor. Um vinho que fala e que conversa sério. Para a mesa e para as conversas sem tempo.

Consistência? As várias garrafas que bebi ou provei estavam no mesmo patamar. Com a imperfeição que se quer para este vinho.

Nao será consensual, mas o enófilo curioso e experimentado vai com certeza recordar. É único. Tem personalidade.

18 a 20 euros o preço? Se vale? Digam-me quanto vale uma viagem no tempo, sem sair do lugar (por mais sinuosa que está possa ser). Ah, a casta: Boal do Barreiro.

Um grande vinho, orgulhoso e destemido.

Quinta do Crasto: a paisagem e os vinhos em uníssono

Paisagem e vista de cortar a respiração (faça-se um segundo de silêncio), vinhos de superior qualidade, que nos elevam e nos fazem viajar pelas vinhas e o charme na dose certa. Há momentos que nos sentimos com sorte. A minha estreia na Quinta do Crasto não podia ter sido melhor.

(Antes de continuar quero agradecer ao Francisco Rebello de Andrade pelo desafio e ao Pedro Guedes de Almeida pela simpatia e pela forma sublime como nos recebeu).

Antes dos vinhos, vamos ao cenário. O sol recomenda-se e torna todo o cenário ainda mais especial. Uau.

A vista é tão tão boa que nos sentimos de imediato um fotógrafo de primeira categoria. Difícil não gastar toda a bateria do telefone a registar os primeiros momentos.

Agora sim, podemos ir aos vinhos. Começámos por provar a gama de vinhos no mercado, desde o Quinta do Crasto (gama de entrada, se quiserem) até aos monocastas. Há um traço identitário nos vinhos. Há. E digo que tudo começa na vinha e na seleção da fruta. Todos os vinhos primam por uma pureza de fruta incrível. O que é que isso quer dizer? Imaginem uma orquestra onde conseguem capturar o som de cada instrumento de forma clara, límpida, cristalina. Feita a analogia. Podemos pegar no morango, na cereja e perceber a sua dimensão, frescura em tons vibrantes.

Nos vinhos brancos, assumo ligeira preferência pelo Crasto 2021, relativamente ao Crasto Superior 2021. Por que razão? A frescura é mais evidente, apesar de menos complexo. O Superior precisa de um pouco mais de tempo para uma melhor integração de alguns aromas da barrica. Sublinho que o lado “mineral” deste vinho o torna muito prazeroso também.

A surpresa foi o Crasto Rosé 2022, com equilíbrio entre o vibrar da fruta vermelha, muito elegante e com a acidez necessária para ser versátil. Sozinho ou acompanhado vai muito muito bem. O preço abaixo de 10 euros. Recomendo. A mudança na garrafa e a cor do vinho impressionam e fazem disparar as vendas.

Nos tintos, sublinho a profundidade de aromas do Crasto 2020 (excelente opção na sua gama de preço), porém aqui inclino-me mais para Superior onde há mais camadas e profundidade. Agora, perante o pouco consensual (face ao que leio pela internet), o Crasto Altitude 430 de 2020 é um vinho mais elegante, para quem procura leveza, frescura, sem perder o potencial gastronómico. Pessoalmente, gosto mais do 2019, que é um pouco mais incisivo e nervoso, o 2020 arredonda os momentos e deixa-se levar. Perigoso. Já o Superior Syrah 2020 agradou-me imenso pela fruta viva e pelo jogo constante entre fruta vermelha e fruta preta, sempre com as especiarias a provocarem o nosso palato. É bom, é bem bom. Compraria? Sim.

O Reserva Vinhas Velhas 2020 é um ícone, cheira e sabe a tradição, é o Douro e a Quinta do Crasto fundidos numa identidade que perdura no tempo. Mais sério, afirmativo, onde a precisão da fruta vermelha procura uma fusão equilibrada com a barrica bem presente. Ou seja, quem gosta de um Douro tradicional vai adorar. Tem equilíbrio, tanino, complexidade.

Nos monocastas, subimos de patamar: em precisão, prazer e preço. Para mim, o Touriga Nacional 2018 é um dos melhores do mercado. É de um perfume e aroma únicos, puro, puro, puro. Pedro Guedes de Almeida explicou que se deverá ao facto de usarem um antigo clone chamado de “Tourigão” (simplificando: uma versão menos produtiva e ao mesmo tempo mais singular da casta).

O meu preferido foi o Touriga Franca 2018. Tem um lado selvagem: gosto muito! É intenso, vibrante, muito fresco, com tanino que provoca e que equilibra. Vinho para divertir e fazer feliz o palato nas mais variadas harmonizações gastronómicas. O Tinta Roriz 2018 alia a potência a uma textura particular: que tem tanto de fina (pela acidez), como de volume e tanino que oferece textura na boca. Diria que é daqueles vinhos para quem sabe o que quer. Não há desvios. É preciso e profundo.

Dois ex-libris da Quinta do Crasto

Prosseguimos, depois com uma visita e almoço, com vinhos servidos às cegas. Importa salientar a longevidade destes vinhos, mesmo nas gamas de entrada, quer nos brancos quer nos tintos. Apreciadores de vinhos com alguma idade vão gostar. Apesar de termos fechado o dia com um Tawny e um Vintage que se revelam à altura dos vinhos de mesa, o momento foi a prova da Vinha da Maria Teresa 2013 e o Vinha da Ponte 2012 – ícones da marca, que se mostram ainda jovens e com muitos anos pela frente.

Estes exemplares, ambos com mais de 10 anos, arrebatam-nos pela incrível vivacidade, pureza e profundidade, prometendo melhorar ainda mais nos anos vindouros.

Como será uma prova vertical destes vinhos? (pergunta em forma de desejo!) Como são vinhos de um preço elevado para o nosso mercado, fica a nota para quem quer investir: anos mais quentes – o Vinha da Maria Teresa (orientação a Oeste) sairá privilegiado. Em anos mais frios, a exposição a Sul da Vinha da Ponte poderá ser mais promissora.

A memória que fica é que a Quinta do Crasto é um sinónimo de coerência, consistência e muita pureza que resulta do trabalho de viticultura e seleção da uva para os vinhos. Na visita impressionou-me a atenção ao detalhe, sempre acompanhada de simpatia e saber receber. O charme e simplicidade, com uma vista sublime, tudo em uníssono.

Vinalda Experience | Vinhos com conta, peso e à medida

Versatilidade a toda a linha marca o portfólio da Vinalda, que na celebração dos 75 anos, nos permitiu viajar por vinhos poderosos, vinhos que nos elevam, outros que nos pedem para sentar à mesa. Há vinhos para pensar e refletir e, enfim, outros que serão a alegria do dia-a-dia.

Para elevar, sonhar e degustar…

Eu sou apreciador de vinhos que me elevam, que me pedem silêncio depois da prova (numa espécie de vou viajar ali e já volto) que pela subtileza e elegância me conquistam. É por isto que adoro os vinhos da Quinta de Monte d’Oiro. É especial o projeto. Preferências? O recente ex-aequo 2017 é subtil, tem charme e um fim delicado, puro e profundo. 60 euros que pedem um tempinho mais de garrafa. Se não querem gastar tanto, deixem-se levar pelo Tinta Roriz 2019 (surpreende pela textura fina) ou pelo Reserva Tinto 2017. Não consigo escolher. Para os fãs de vinhos mais velhos, o Aurius – agora Touriga Nacional está em ótimo plano.

No lado da imponência

Se há um projeto para todos dominar (desculpem a analogia ao Senhor dos Anéis), temos que falar de Osvaldo Amado e do seu Raríssimo. Os novos tintos Raríssimo 2009, Dão e Bairrada, são portentosos.

Desta vez, gostei mais do Baga/Bairrada. Se quiserem saber mais, já os comentei antes (ver artigo). No portfólio Vinalda, dentro deste perfil, sublinho os Casa de Santar Vinha do Contador tinto, ou o 8 Parcelas. Mais uma vez, Osvaldo Amado tem a palavra. Não me compete dizer qual é melhor, a felicidade tem o seu preço e vias múltiplas. Não posso deixar de referir o Segredo de Saturno 2015, com fruta que se degusta e que toma conta do palato, em camadas bem profundas. No Douro, há espaço para falar do elegantíssimo e intenso Quinta da Gricha, da precisão e pureza do Talhão 8 (o Gricha, por sua vez, surpreende pela versatilidade).

Uma seta apontada ao futuro

Uma marca de sucesso deve ter bons, ou magníficos produtos, mas deve ser coerente, consistente e trabalhar continuamente rumo ao seu desígnio. Titan of Douro é uma estrela em ascensão.

Sublinho consistência do trabalho de Luís Leocádio: um projeto onde só há bons vinhos. Se não é o projeto mais versátil e consistente do Douro, andará perto.

Fragmentado Branco Blend II é estrondoso, na tensão, finesse, frescura e longevidade. Pureza em equilíbrio com um lado selvagem. O Tinto Estágio em Barro dá vontade de degustar mais e mais (vai bem sozinho, naquela vontade egoísta de beber mais e mais). O Estágio em Barro Branco é misterioso e aberto, alegre na forma com cria camadas no palato. O Vale dos Mil Branco e Tinto estão a belíssimo nível. A gama de entrada vai vender que nem ginjas. Ufa…Ah, e o Rosé?! Gastronómico, tenso e equilibrado.

Criatividade encontra ancestralidade com simplicidade única

Nas XXVI Talhas, um dos meus projetos favoritos, pela simplicidade, identidade e valorização do património, o XXVI (que estagia em ânfora, com cobertura de azeite) é a novidade. 90 euros para quem procura um vinho fresco, invulgar e com uma camada invulgar de complexidade. Para os aficionados. O vinho pede e melhora à mesa. o Titan do Tareco é vinho em harmonia, delicado, leve.

Já foram a Vila Alva? Não?! Então vão e visitem o Mestre Daniel e o Mestre Ricardo já agora.

Verdes em alta

Estar com o Miguel Queimado – Vale dos Ares , é sempre uma alegria boa, ao mesmo nível que conversar com ele sobre os seus Alvarinhos. Uma viagem de nuances, onde o poderoso Vinha da Coutada se destaca e o incrível “Borras Finas”, que é distintivo. Destaco também o Origem do projeto Cazas Novas. Quem procura um clássico, o Palácio da Brejoeira oferece um Alvarinho mais expansivo e aromático.Aqui o destaque vai para aguardente velha. Que classe.

Vinhos singulares: de Setúbal, Colares, Lisboa, Madeira e Trás-os-Montes

O projeto de António Saramago, nos brancos, oferece um interessante jogo entre Arinto e Antão Vaz, onde o lado cítrico encontra notas verdes e mais herbáceas, que nos secam o palato e nos pedem mais dessa frescura que nos amarra ao vinho. O destaque é o A.S. Tinto 2015 um vinho com estrutura, mas sempre alinhado com grande frescura. Pede carnes vermelhas e queijos bem amanteigados, que equilibrará lindamente. Colares Chitas Reserva Tinto é iguaria rara para ser apreciada, a casta Ramisco pede tempo, o vinho já se deixa levar, mas mais longevidade em garrafa fará o seu lado irreverente revelar notas atlânticas, com salinidade e especiarias que se revelam lentamente. No Casal da Azenha, Lisboa, registo para um arinto fora do vulgar, menos cítrico e ligeiro toque especiado que normalmente não sentimos. Na Madeira, realço o musculado e incisivo Ilha Verdelho, que é um vinho mordaz, que agarra, seca e refresca ao mesmo tempo: para a mesa. Em Trás-os-Montes, nas Terras de Mogadouro, o Gewurstraminer está cada vez melhor afinado (para quem procura algo invulgar, em Portugal). O Touriga Nacional parece-me um vinho muito bem definido.

Opções à medida de todos os dias

Cazas Novas Colheita, por 5,60 euros , uma excelente incursão no Avesso. Quinta da Alorna Reserva, seja o tinto Touriga Nacional com Cabernet Sauvignon, ou o Arinto Chardonnay, são ótimas opções, quando não queremos gastar mais do que 7 ou 8 euros. Vão parecer e revelar-se como vinhos acima do seu patamar de preço. Também nos brancos, o Churchills Grafite (12 euros) é um vinho que recomendo. Os Titan of Douro vão agradar, bem como toda a gama de entrada da Quinta do Monte d’Oiro.

Se pensar no preço, qualidade e experiência, o vinho do evento é o Vale dos Ares “Borras Finas”. 15 euros.

Se preço não for um assunto, então o meu top 3 é (sem ordem de preferência): Raríssimo Bairrada 2009, ex-Aequo Quinta do Monte d´Oiro e Titan of Douro Fragmentado Branco. *
*Nota: não provei o Vinha do Contador Branco. (já tinha acabado).

Para fechar, sublinho que estas são escolhas do momento e que amanhã bem poderiam ser diferentes, mas é também por isso que adoro provar vinhos. Cada dia e cada vinho têm uma estória.

Vinhos a recordar no Enóphilo 2022

Vamos ser claros: provar tudo, tudo, tudo no Enóphilo é impossível, se a isto somar a ida a duas maravilhosas provas comentadas, menos tempo fica para uma profunda e exaustiva prova de todas as referências. Difícil é escolher, tal a boa oferta. Ainda assim, foi profícuo (fiz o meu trabalho, ou prazer se quiserem) e acho que merece partilhar com vocês umas linhas sobre novidades, destaques e aquilo de que gostei mais e algumas descobertas. Vamos a isso?

Se o que é bom fica na memória, então começo pelo inesperado Quinta da Biaia Fonte de Vila 2017. Aquela tensão crocante, com uma profundidade de aromas cítricos e complexidade qb, fazem deste vinho uma experiência longa, aprazível e…viciante. Ronda os 35 euros, parece-me mais do que justo.

Passando agora a dois portentosos vinhos (Osvaldo Amado realmente não brinca em serviço), o Raríssimo Dão (2009) é um tratado de bem fazer bem. É profundo, elegante, camadas e camadas de saborosa complexidade entre fruta vermelha ainda com frescura e aromas ligeiramente tostados e de fruta em transformação. Escolher entre o Dão e o Bairrada/Baga tinto (2009) é díficil. O Baga é mais potente e oferece uma mordaz acidez, profundidade e aromas de fruta preta. Venha lá o diabo e escolha. O preço é para aficionados – ronda os 80/90 euros

Falando de elegância e vinhos que seduzem pela sensibilidade com que nos conquistam, o Casal das Aires Vinhas Velhas Branco 2019, é uma linda e inesperada opção. O preço de 40 euros ilustra a qualidade de um vinho que mostra finesse.

Se procuram o diferente e de fazer inveja a muitas referências do Douro, o Zuccaro 2018, podia ser um Brunello di Montalcino, só que não. É um grande trabalho, num vinho de estrutura, complexidade, que gosta e pede momentos importante e conversa séria. 60 euros o preço.

Se o prémio fosse precisão e pureza, então Carlos Raposo e o seu definido branco estava na linha da frente. Um grande vinho branco. Preço ronda os 25 euros. Aliás, todo o projeto se pauta por uma identidade e linha condutora, que qualquer vinho deste projeto merece ser provado e degustado.

Nos espumantes, o novo Terrunho d’ Alma 2018 , do enólogo, José Domingues está de uma elegância fantástica, a confirmar o grande trabalho feito no 2016. De chorar por mais, pela bolha elegante e frescura. Gostei muito do novo espumante do Joaquim Arnaud no qual sublinho a elegância da bolha e o equilíbrio em toda a linha. Grande trabalho. Os preços de ambos devem rondar os 15/20 euros. Não posso deixar de referir a consistência da Quinta dos Abibes Arinto & Baga, sempre equilibrado.

Pelo Dão, importa falar do excelente trabalho que continua a fazer João Gouveia Osório e a sua Portugal Wine Firm. O Ayres é um branco de uma frescura e mineralidade que nos atravessa, acidez fina e precisa. Tenho que mencionar o Invês, a parceria deste produtor com Henrique Cizeron (Cizeron Wines), um branco que apesar de jovem, mostra camadas e algum mistério. O Rosa da Mata Tinto/ Alfrocheiro está de beber por mais, difícil parar de beber esse vinho que está num momento fantástico, onde a fruta vermelha é elevada e bebida num misto de diversão e propriedade. Não posso deixar de mencionar, que o Primado 2012 (20 euros) é sublime e um vinho de enorme classe. Precisarão de duas garrafas.

“Constantino aquele Pét Nat Tinto, está bem bom”.

Ah, e coisas malucas e criativas? Vamos lá falar do trabalho do Constantino Ramos que não se cansa de nos fazer viajar pelas raízes. O Pét Nat tinto – que belo aperitivo, que fruta sedutora. Ótimo para quando não vos apetecer uma cerveja e querem algo diferente. O Turra Craft branco (11 euros) é também assim uma coisa muito fora do vulgar, meio experimental, mas onde o equilíbrio entre acidez e diferentes aromas se revela uma surpresa no palato. Outro marca que continua a fazer a diferença, é a Quinta Costa do Pinhão, onde para mim o ” Marufo” (17,5 euros) continua a ser uma delícia e um “personal favourite” (desculpem o anglicismo). Em modo fim de festa, ainda provei o Gutta Supera da Quinta do Paral que nos agarra pela viagem em nuances de fruta tropical e cítrica. (16 euros)

Nos Alvarinhos, o Regueiro Maturado (22/23 euros), o Afluente 2021 (este ano mais mineral/20 euros ), o Terrunho 2018 (18/20 euros), os Casa do Capitão-Mor (12/14 euros) & Quinta de Paços Alvarinho (muito elegente), e o Álvaro Pequenino de Joaquim Arnaud (12 euros), da região de Lisboa, foram as minhas preferências. Nos Loureiros (que in loco, deu uma disputa bem engraçada), eu aposto no arrojo cortante do Parapente (25 euros), no equilíbrio do Quinta do Hospital (8 euros), na rusticidade cítrica do Terrunho (7,90). O Cinética será um ótimo Loureiro, mas precisa de tempo. Neste projeto Henrique Cizeron, sublinho a incursão transmontana de Henrique Cizeron, que eu não conhecia, que oferece um jogo entre leveza e concentração de fruta que apetece saborear e faz salivar. (16/17 euros)

Uma palavra final, para as excelentes provas verticais da Quinta de Paços/Casa do Capitão-Mor, onde Paulo Graça Ramos nos ofereceu mais de duas décadas de viagem por Alvarinhos inesquecíveis e onde Joana Pinhão nos fez celebrar 10 anos de Somnium, nos cedeu um bocadinho do seu conhecimento e, já fora da prova, nos mostrou a novidade de solo Granítico que impressiona pela frescura.

Excelente organização, num evento que mostra crescimento e um trabalho cada vez mais apurado de Luís Gradíssimo.

Uma roadtrip vínica em Bordéus

O mergulho no mundo dos vinhos é uma viagem, começa por um bom vinho, por uma boa conversa e, passo a passo, somam-se as provas, as experiências, as descobertas e as curiosidades. Estou certo de que para muitos de nós há um momento que queremos abrir portas e explorar um pouco para lá de Portugal. Bordéus é uma das primeiras regiões que nos passam pela cabeça nesses instantes.

Mais cedo, ou mais tarde, Bordéus vai tornar-se numa ideia, num itinerário possível, numa escapadinha, numa experiência que realmente podemos concretizar, sem que tenhamos que comprometer o orçamento a anual (a não ser que percam a cabeça e queiram e possam trazer algumas preciosidades na bagagem). No momento em que a decisão está praticamente tomada, começam as indecisões, onde ir, o que visitar, por onde começar -especialmente quando o nosso conhecimento de nomes e marcas é ainda um bebé prematuro.

Deixo-vos em, sete pontos, um breve relato de uma viagem de apenas 3 dias, com algumas sugestões e informações úteis, caso uma incursão vínica estiver de facto nos vossos horizontes. Como sempre, apenas falarei das experiências que realizei e brevemente daquelas que ficaram no horizonte.

1. De carro ou de avião? Avião.

A primeira decisão é de como chegar a Bordéus. A viagem de avião (ida e volta) andará entre os 50 e os 70 euros, consoante a época do ano e a capacidade de antecipar a viagem. Fiz a viagem em agosto e o preço do bilhete foi acessível. A opção, depois, foi a de alugar um carro, pois a “road trip” estava no plano. Optámos por manter as noites todas no centro da cidade, mas provavelmente hoje optaria por uma opção mais itinerante, para aproveitar melhor as rotas vínicas fora da cidade. A opção de avião e aluguer de carro compensa em tempo, porém fica a nota: se o destino for apenas cidade, dispensa-se o carro, andar a pé, de tram, de bicicleta ou trotinete são opções. A cidade é plana.

O estacionamento para automóvel é escasso e é caro (o que fizemos foi estacionar e sair e cedo e no dia de visita à cidade, estacionamos a uns bons 2,5km do centro. A cidade aderiu à sustentabilidade e para quem preferir o aluguer de um carro elétrico, não haverá problemas em encontrar postos para abastecer.

Levar carro para Bordéus compensa se o objetivo for trazer vinho para Portugal, a preços que serão mais convidativos do que mandar vir online, ou comprar em Portugal, com o acréscimo do preço do distribuidor/vendedor/garrafeira.

2. Ter em mente o mapa da região e seus distritos

A região de Bordéus é conhecida, claro pelos seus vinhos, mas há diferenças entre as diferentes sub-regiões ou distritos. A informação principal a saber é que a região está naturalmente segmentada pelo estuário do rio Gironde (onde confluem os rios Garonne e Dordogne). Na margem esquerda do rio (a oeste do Gironne) encontra-se o distrito de Médoc onde irão encontrar os maiores famosos e aparatosos Chateaux da região e onde se planta maioritariamente Cabernet Sauvignon. Médoc AOC, Haut-Médoc AOC (que inclui Margaux AOC e Pauillac) são referências de denominações de origem que podem querer ter em mente. A informação sobre as percentagens das castas plantadas pode ser encontrada em: https://www.bordeaux.com/us/Our-Terroir/Grape-varieties. Para combater as alterações climáticas as castas Alvarinho, Touriga Nacional e Marselan foram admitidas nas região.

 

Ainda nesta margem, a sul de Bordéus fica o distrito de Sauternes e de Graves, que inclui a Pessac-Léognan AOC, uma denominação de alta qualidade. Infelizmente, os distritos a sul ficaram para outras núpcias, por questões de tempo. (o facto de termos o centro da cidade como base, implicou algumas cedências que poderão querer evitar, com reservas mais itinerantes).

Na margem direita do rio (para este e norte) Saint-Émilion é o destino principal e é a região onde é plantada maioritariamente a casta merlot. Considero esta região mais pitoresca e onde mais facilmente podem visitar pequenos produtores, que recebem os visitantes sem ser necessário fazer uma reserva. Por visitar ficou distrito de Pomerol, do icónico vinho Petrus.

(créditos imagem: winefolly)

3. As visitas e as provas: reservar antecipadamente (sempre que possível)

A recomendação que faço, ainda que haja boa margem para algum improviso, consoante a época do ano, é que façam sempre um contacto prévio via e-mail, independentemente da dimensão do produtor que querem visitar. As respostas tendem a ser rápidas e plenas de simpatia. Se de alguma forma têm uma ligação ao vinho, como produtor, énologo, blogger, crítico ou simplesmente interessado, não deixem de mencionar, pois ficou claro que gostam de receber pessoas com algum conhecimento de causa. Muitas das visitas têm horários e um bom plano e pontualidade permitem ter um itinerário organizado. Por fim, os grandiosos e mais reputados Chateaux não estavam a aceitar visitas e por norma só as fazem em programas organizados (ver nos sites) ou apenas e só para profissionais da área. Se aqui podem tem que reduzir expectativa, há muitas e boas experiências pela frente. Os mais importantes Châteaux na região segundo a Wine Tour in France: o Château Angelus, o Château Cheval Blanc, Château Figeac, Château Haut-Brion, Château Pape Clément, Château Lafite Rotschild, Château Latour, Château Margaux, Château Guiraud e Château Lagrange, ao que acrescentaria o Chateaux d’Yquem por ser ícone do luxo – propriedade do grupo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton).

4. A não perder (sem ordem de preferência)

A Cité du Vin – Museu do Vinho é uma experiência obrigatória. A visita rondará os 17/18 euros e inclui e começa com a prova de um vinho do mundo no último andar. No meu caso, optei por um vinho croata que desconhecia por completo. O museu está muitíssimo bem concebido, com experiências interativas e quizzes a realizar, onde realço a experiência dos aromas e a informação dos vinhos do mundo. Se puderem incluir no vosso pacote a compra de um workshop temático (desde nível inicial, intermédio, vinhos do mundo…) penso que o devem fazer. Mesmo que o francês seja uma dificuldade, eu arriscaria.

– Na margem esquerda do rio fazer todos os mais de 80km da D2 (estrada nacional), parando sempre que pertinente para tirar fotografias aos icónicos Chateaux. De Margaux a Pauillac até ao fim, mais a norte até ao Chateau Loudenne, com jardins com acesso ao corrente marítima. Dali até ao mar para comer ostras ou mexilhões é só mais um bocadinho. Em Margaux, a passagem pelo Château Margaux faz parte do percurso, mas podem fazer uma incursão ao Chateaux Siran onde os vinhos são guardados num bunker anti-radiação nuclear (do período da I Guerra Mundial). Uma paragem no solarengo Chateau Marquis de Terres para uma prova é puro deleite.

Em Pauillac, podem recorrer ao posto de turismo para algumas marcações, aliás, é recomendável, mas cheguem cedo. Foi lá que nos sugeriram uma visita a um pequeno produtor Domaine Les Sadon (de Alan Albistur) – , que tem, literalmente, um corredor de vinhas que atravessa o reconhecido Chateau Pichon. Os vinhos são de qualidade inegável e os preços nada excessivos. Não me recordo do valor da prova, pois ele gostou tanto da nossa companhia que nos ofereceu a prova, mas creio que seria algo entre os 7 e 10 euros. As fotografias a propriedades como o Château Mouton Rothchild, entre outros valerão a pena. Se conseguirem uma visita, melhor ainda.

– A caminho de Saint Émilion (impossível de perder a ida) – as visitas ao Chateau Coutet e Chateau Soutard serão emblemáticas. No primeiro, fomos (sem saber) recebidos pelo proprietário e enólogo David Beaulieu, com enorme simplicidade e simpatia. É um espaço pitoresco, onde a natureza reina. Desde a década de 1950 (se a memória não falha) que todo o processo de viticultura é biológico. Neste espaço, onde merlot reina, foi encontrada intacta uma das garrafas de vinho (se não “a”) mais antigas do mundo, selada por uma cápsula de vidro. Os vinhos estão à altura da experiência. Depois da prova (feita por reserva), optámos por comprar uma garrafa e saboreá-la nos jardins selvagens da propriedade (recomendo repelente para insetos). No Chateau Soutard, já com uma dimensão assinalável, devido a um desencontro de e-mails, só foi possível fazer a prova. Mas, que prova – um vertical (o mesmo vinho, mas de anos diferentes). O Chateaux Soutard de 2011 está sublime – o melhor vinho de todos os 3 dias. O 2016 também está muitíssimo bom.

5. O mercado e as iguarias locais

A ida ao mercado “Les Halles de Bacallan”, mesmo ao lado da Cité du Vin, é um ótimo local para umas tapas e petiscos e degustação das mais variadas opções de vinho a copo, ou de garrafa. É um bom local para degustar iguarias locais, vinhos de toda a França, sempre com as irresistíveis ostras em primeiro plano. Grande parte das nossas refeições foram itinerantes. Ah, lá porque não visitamos o distrito, um Sauternes bem fresco, num cenário de final de tarde, ou de início de noite sabe sempre bem. O magret de pato vai com certeza ser uma opção constante ao longo dos diferentes menus que terão pela frente. Se quiserem ir para outros patamares, restaurantes com estrelas Michelin ou de estrelas como o Gordon Ramsay estarão à distância de uma reserva. Se a road trip vos levarem até às praias, então aproveitem para degustar os produtos locais. (nota: a foto dos mexilhões foi em Soulac, no percurso final, após a D2).

6. A cidade

Parece impossível não ter falado devidamente da cidade. Bordéus é uma bonita cidade, bem organizada, onde o rio tem uma posição dominante. Os passeios pela cidade, as igrejas e catedrais, os restaurantes e bares sempre animados, e a preparação da cidade para quem quer fazer o seu percurso por bicicleta, tornam-na num local perfeito para uma escapadinha e passeios constantes.

7. O alojamento

O alojamento não será particularmente caro na cidade. Apesar de não poder recomendar a nossa opção de estadia, na altura da pesquisa o airbnb tinha boas propostas. Porém, eu daria primazia ao itinerário, ou seja, definiria primeiro o percurso e depois ver quais as possibilidades que melhor se adaptam ou tipo de viagem que querem fazer. Reforço, que a cidade em si não é de grande dimensão, pelo que dois dias na cidade devem permitir percorrer as principais atrações, incluindo uma passagem pela Péssac Leógan AOC.

Por fazer ficaram algumas atividades, mais ligadas à cultura e o poder explorar os Chateaux de maior dimensão, que a pandemia não permitiu. Ficou muita vontade de voltar, mas se calhar primeiro fazer uma road trip pela mais informal Borgonha.

Nota de agradecimento ao enólogo Constantino Ramos e ao Paulo Pimenta do Winenstuff.com pelas sugestões e propostas.

10 inesperados vinhos para o Natal

Hoje o tema são propostas inesperadas que poderão alegrar o vosso Natal e que, de alguma forma, me marcaram a mim durante o ano. Prometi a mim mesmo que não ia deixar passar este período, sem dar algumas propostas para esta quadra. E por onde começar? Por vinhos que fazem a diferença.

As propostas vão para vários preços, mas lembrem-se, aqui o tema é ser inesperado, criativo, irreverente ou um pouco mais velho, sem repetir regiões. Foram todos vinhos que provei e que me deram prazer tanto no palato, como na criatividade, longevidade ou precisão. É também uma ótima forma de elogiar o trabalho de alguns produtores. Seguramente vou esquecer-me de muitos, por isso aproveitarei para lançar mais temas (se o tempo deixar) nos próximos dias.

Apresento a lista por ordem de preço.

  1. Alto da Lousa Reserva Branco Doc – Arinto & Riesling (Beira Interior)  | Preço: 7,95 euros (ver Garrafeira Nacional)
  2. Quinta de Lemos Dona Louise 2006 (Dão) | Preço 12,5 Euros  (Ver WineBox4You)
  3. Sem Igual 2019 (Vinhos Verdes)  | Preço: 12,5 euros (ver Vinhedo.pt )
  4. Raspanete Cabernet Sauvignon Tinto 2018 (Lisboa) | Preço: 19 euros (ver Unique Wines)
  5. Alto do Joa 2018 Branco (Trás-os-Montes) | Preço: 19 euros (ver El Corte Inglés)
  6. Casal das Aires Chardonnay 2018(Tejo) | Preço 20,90 Euros (ver Garrafeira Nacional)
  7. Vadio Solera Bruto Espumante (Bairrada) | Preço: 19,90 euros (ver Vinha.pt )
  8. Quinta dos Tourais Lilipop Tinto Cão 2018 (Douro) | Preço: 23,50 euros (ver Wineabe.pt )
  9. Largueza  2017 (Alentejo) | Preço: 29,90 euros (ver Vinhedo.pt )
  10. Arinto dos Açores “sur Lies” (Açores) | Preço: 30 euros (ver Decantify )

Nota: todos os vinhos foram bebidos/provados durante o ano de 2021.

Vinha do Contador: ambição de um ícone para o Dão

A vontade da 19|90 Premium Wines em ser um emblema de grandes vinhos no país e no mundo fica expressa num caminho e numa visão para o Dão, onde os vinhos “single estate” assumem um papel central. Os novíssimos Paço dos Cunhas Vinha do Contador e os Casa de Santar Oito Parcelas, Branco Curtimenta, e Rosé são fruto desta ambição. A prova destas referências, realizada num jantar a convite da 19|90 Premium Wines, permitiu conhecer vinhos onde a inspiração, o tempo, o conhecimento e o prazer caminham lado a lado.

(se dispensarem o comentário ao projeto e querem saber de imediato o meu comentário às referências em prova, podem fazer scroll)

Os vinhos da Casa de Santar são emblemáticos no Dão e marcaram o meu crescimento e conhecimento no mundo dos vinhos. São bons e são fáceis de encontrar e possuem um perfil capaz de agradar à maioria dos consumidores. Porém, nos últimos anos, parecia faltar uma novidade, um ícone, algo que projetasse os vinhos da Global Wines, no Dão para um patamar superior.

Importa aqui sublinhar que não questiono a qualidade de um Casa de Santar Reserva, ou de um Vinha dos Amores (Touriga Nacional), mas para mim foram deixando de ter aquele fator “wow”, que a experiência e as inúmeras provas fazem tornar cada vez mais raro. A consistência tem isso, garante a qualidade (se a tiver), garante uma experiência sempre coerente e, neste caso, fruto da boa distribuição e preço, fácil de repetir. Porém, o ser humano ambiciona mais, o enófilo que cresce em cada um de nós, aprecia marcas que evoluem com ele.

A 19|90 Premium Wines, divisão para o segmento Premium da empresa que detém uma larga fatia da vinha do Dão, pretende ser um farol no que à qualidade e excelência diz respeito e, para isso, os vinhos “single estate” são, para além do enoturismo, o seu foco. Os vinhos com a designação Vinha do Contador são o porta-estandarte desse desígnio.

Um convite abriu portas para conhecer as novas referências deste projeto, num jantar que contou com a presença do enólogo Osvaldo Amado, e com Rui Correia, Diretor de Marketing. impressionou-me a mim e, creio que posso dizer todos os presentes, pelo sentido estratégico, pela visão para a marca e, claro, pelos vinhos. Anos de trabalho de pensamento e conhecimento, alicerçados na experiência de Osvaldo Amado na enologia, deram frutos. Em 2021, temos agora um Rosé (com fundamento histórico), um branco de Curtimenta, um tinto de 8 parcelas singulares e dois vinhos para serem um culto na região: os vinha do Contador, branco e tinto. Vamos então falar dos vinhos.

A surpresa em tom rosé e um branco para o mundo

A primeira novidade, depois de sermos recebidos com o sempre fresco e elegante espumante Vinha dos Amores Encruzado, foi o Casa de Santar Rosé 2020. Foram anos de estudo e de tentativas, um processo longo, até chegar até nós esta novidade, que tem a sua inspiração num legado histórico da marca e nos grandes rosés da Provence. O resultado surpreende. O nariz é sedutor, aromático, presente, com notas de pêssego e notas ténues de fruta vermelha fresca (desculpa a confissão, mas viajei até à infância e a um “Sugus” de tutti-frutti – estou certo que alguns vão entender a importância da memória olfativa). Na boca este vinho é elegância pura, é delicado, seco sem ser agressivo, a fruta equilibra com a acidez de forma que envolve o palato, como uma brisa leve que toca o rosto. Um vinho que harmoniza bem com saladas e queijo feta, com sushi ou um tártaro. Delicado, perfumado, sedutor. É um dos melhores rosés do país e tem um preço de 15 euros, o que o torna mais do que apetecível na relação qualidade/preço.

Castas: Touriga Nacional

O Casa de Santar Curtimenta Branco 2019 fermentou tal como um tinto, mas não parece um curtimenta (fica em contacto com a película durante a fermentação) na cor (não é nada alaranjado), já que se apresenta num amarelo pálido/palha. Não será um vinho para divertir o produtor e de laivos criativos. É um vinho bem sério, para divertir o consumidor. Discreto no nariz, pouco aromático, mas na boca revela-se. É um vinho com acidez marcada, tenso, muito cirúrgico (ou seja, conseguimos delinear todas as suas notas, com precisão). Além de cítrico, tem notas de cereal e fruto seco, mostrando-se amplo e largo na boca, permitindo perceber de forma equilibrada as notas e textura provenientes do estágio em barrica.

Casa de Santar Curtimenta Branco

Castas: Encruzado

O Paço dos Cunhas Vinha do Contador Branco Grande Júri 2015 (Dão Nobre) é simplesmente um vinho dos diabos (foi o que escrevi mal o provei). É um dos melhores vinhos brancos que já tive o prazer de beber. É longo, longo, longo. Seco, mas fresco (mineral se quiserem) elegante, seduz com a precisão da fruta (imaginem degustar o vinho, uva a uva, passo a passo, num infindável prazer). Pois, é isso. Deixa água na boca. A acidez molda ao palato e aparecem notas especiadas (pimenta branca) e um toque ligeiro de maçã. O preço de 90 euros é, claro, elevado, o que faz deste vinho um dos mais caros brancos portugueses, no entanto, é também um dos melhores. Sublime vinho.

Paço dos Cunhas: Vinha do Contador Grande Júri 2015 – Branco

Castas: Encruzado, Malvasia Fina, Cerceal.

Dois tintos “egoístas” que exigem atenção máxima

Casa de Santar 8 Parcelas 2012 Touriga Nacional, ou Paço dos Cunhas Vinha do Contador Tinto Grande Júri 2013? Qual o melhor? Todos concordamos que comparar estes vinhos tem o seu quê de injusto. 

Casa de Santar Oito Parcelas 2012

O Casa de Santar 8 Parcelas 2012 é um primor na forma como especialmente as diferentes castas entregam todas as suas notas, misturando leves aromas de fruta vermelha (groselha, amora), um pouco de azeitona, com aromas mais balsâmicos e aromas terciários. Um vinho que ali um lado mais intenso e robusto, com um tanino presente que acrescenta, sem se sobrepor e uma acidez média que traz ainda frescura. Um lado mais sério, de reflexão, intelectual, com toda a classe. Um vinho com qual queremos conversar. O preço de 70 euros faz jus, a um tinto de eleição.

Castas: 50% Touriga Nacional, 15% Alfrocheiro, 10% Tinta Roriz, 10% Jaen, 7,5 Alicante Bouschet, 7,5% Tinto Cão

Por seu lado, Paço dos Cunhas Vinha do Contador Tinto Grande Júri 2013, contrasta com o lado mais sério do seu parceiro de Oito Parcelas. É um vinho harmonioso, feliz (com isto quero dizer com fruta silvestre madura e grande volume de boca), em que vivacidade é maior e fruta igualmente profunda. Um vinho sumptuoso em que também encontramos um toque floral e fumado. Os taninos envolventes, estão presentes mas não marcam. O preço a rondar 120 euros vem marcar a posição não só do vinho, mas de todo o projeto da Vinha do Contador – a visão de ser um emblema do Dão. (nota: a interpretação é minha, mas penso que esta é a índole desta insígnia).

Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz

Paço dos Cunhas: Vinha do Contador Grande Júri 2013
Um joker em prova

Não posso deixar de sublinhar novo topo de gama da Herdade do Monte Cal, no Alentejo: o Segredo de Saturno 2015, de cor rubi e intensidade média na cor. Segredo porque a seleção das castas foi aleatória, por 5 equipas de 5 pessoas. A escolha das castas coube aos enólogos de cada equipa. Este é um vinho prazeroso, elegante e delicada, com uma fruta vermelha bem presente, bem marcado pela acidez e frescura. Um vinho perfeitamente em linha, com uma nova tendência de vinhos do Alentejo, de maior vivacidade que nos faz querer voltar e voltar. 

Por fim, o Outono de Santar, Colheita Tardia, é uma excelente opção para sobremesa ou fim de noite, com ótimo equilíbrio entre acidez e frescura.

Castas: 90% Encruzado, 10% Furmint

Os vinhos em prova
A escolha

Se a minha escolha tivesse que ser ditada pelo orçamento, a minha opção iria para o Casa de Santar Rosé. Se a opção for o vinho que mais prazer me deu em prova, optaria pelo Paço dos Cunhas: Vinha do Contador Grande Júri Branco, talvez porque o Oito Parcelas e o Paço dos Cunhas Vinha do Contador Grande Júri Tinto exigem toda a nossa atenção. Não podem ser comparados e merecem ser o centro das atenções. Em suma, estamos perante um arrojado e decisivo passo dado pela 19|90 Premium Wines. Enfim, a novidade chegou.

Vinho do mês: um “Irequieto” elogio ao tempo e à família

Na estreia desta rubrica, pretendo trazer uma novidade e sublinhar a visão de Abel Codesso que juntamente com a Provam, nos traz um vinho para elogiar o tempo, a família, a história, as experiências e os laços que nos unem. Um vinho quase alegre e misterioso, para celebrar e nos rendermos. Nasceu para ser especial e para nos fazer descobrir. Esta é a minha escolha de novembro de 2021.

(No vinho do mês, só falarei de vinhos que provei ao longo desse mesmo mês (e que estão disponíveis no mercado) e que por alguma razão me marcaram)

O irrequieto que saiu “irequieto”

Eu não conhecia pessoalmente o Abel Codesso, mas quando me disseram que antes de uma visita agendada às Rias Baixas, íamos à Provam fazer uma prova de algo muito especial, fiquei curioso. Irrequieto, como diria Abel Codesso, é um bom nome para um vinho, especialmente para um que vem encarnar a sua visão ( e cá para nós, a sua personalidade) e experiência de mais de 25 anos a fazer vinhos. Uma ideia que a Provam abraçou com o enólogo.

Abel Codesso na Provam

Quanto ao nome: da família saiu o desenho para o rótulo, faltava um “r”, mas não faz mal. Família é família e o original é o original. 

O segredo do processo

O “irequieto” é provavelmente o Alvarinho mais desconcertante que já bebi. No nariz é tão complexo, que cada pessoa terá o prazer de associar a ele os mais variados aromas. Para mim, primeiro há um lado floral, depois de fruta cítrica e de banana (sim, há por aqui carvalho americano), mas podíamos dizer flor de laranjeira, chá, complementado com um ligeiro toque lácteo e maçã (aromas de oxidação, talvez). Mas, aqui está a beleza do processo, não vou entrar em termos técnicos, mas Abel Codesso fez deste vinho irrequieto nos aromas, através de um processo de vinificação (bem criativo, digo eu) complexo, onde o tempo é a chave.

Na boca é uma preenchida viagem no tempo

Ora na boca, a experiência é luxuriante (ia dizer exuberante, mas tem contenção), o vinho apresenta uma acidez envolvente (não é incisiva, não é rude) é aveludada, macia, mas intensa, e traz camadas de fruta, de aromas e sabores, preenchendo em toda a linha o nosso palato. Pois, é seco, salino, fresco, ao mesmo tempo que nos parece levar numa viagem através do tempo. Parece novo, é novo, mas depois não é assim tão novo, tem história, tem densidade, é profundo. Descobre-se a cada detalhe, a cada momento. Impressiona. É singular. 

O preço deste vinho rondará os 50 euros. Podemos dizer que é um preço elevado sim, mas que ao mesmo tempo justifica este valor. Não há nada igual. Se quiserem ver por outro lado, este não é um vinho egoísta, é um vinho de partilha, de homenagem, de momentos especiais, de prova em grupo e de discussão. Talvez assim, encontrem motivos para diluir os 50 euros e viajarem pelo tempo, pela mão de Abel Codesso.

Enophilo 2021: as tendências e a minha seleção

Vinhos brancos de elevadíssimo nível, um perfil de vinhos tintos mais elegantes, abertos e frescos e a valorização de castas autóctones e de longa história são tendências que, para mim, vêm para ficar. Tudo isto aconteceu num clima de sorrisos, num ambiente íntimo e especial.

Em 5 horas não deu para provar tudo, e havia muito a acontecer neste evento. Por onde começar? A primeira palavra vai para a região dos vinhos verdes e para a energia e cumplicidade que se vive entre os projetos 100 igual, Quinta de Santiago, Casas Altas e Vale dos Ares (Vinho Verde Young Projects). Desta sinergia já nasceu o Signature, um vinho a estarmos atentos. É bom ver pessoas apaixonadas que olham para o lado e, em vez de um concorrente, vêem parceiros e novas oportunidades. Acrescento aqui, também, os projetos da Quinta de Paços e Quinta do Regueiro que têm vinhos que me enchem as medidas.

O evento de Luís Gradíssimo prima pela boa organização, bom ambiente e pela simplicidade.

Segunda nota, em grande, vai para o espumante Raríssimo 2006 de Osvaldo Amado Winemaker. É uma experiência. Ainda me recordo do toque tostado deste espumante elegantíssimo. Não vou descrever, pois posso estragar. Os outros vinhos deste projeto são, também, um tratado.

Terceira nota de relevo vai para o projeto Giz de Luís Gomes. A consistência de todos os vinhos é impressionante. Um projeto em que tudo bate certo, mesmo que, no rosé, eu possa ter ficado com saudades de 2017.

A prova vertical de Somnium, que Joana Pinhão trouxe para o evento, foi para mim o ponto mais alto do evento, em termos de experiência, aprendizagem e viagem pelo mundo do vinho. A delicadeza do 2014 é sublime, a intensidade do 2017 surpreendeu.

Em termos de prova horizontal, a Maçanita Vinhos levou-nos a uma viagem incrível pelos Açores, um privilégio – até se considerarmos o preço dos vinhos. Centenária ou Vinha Canada? Quase que venha o diabo e escolha.

Nas novidades, os alvarinhos (ou Álvaros pequeninos) de Joaquim Arnaud, com enologia de Abel Codesso, mostraram o potencial desta casta na região de Lisboa, com frescura e acidez incisiva. De 2020, a Vieira de Sousa apresentou um Tinta Francisca e um Rufete de 2020 que vão perfeitamente de encontro a esta nova tendência. A Quinta do Paral, que eu desconhecia, da zona da Vidigueira, surpreendeu pela frescura e elegância dos seus vinhos. Do Dão o espumante do Conde de Anadia, os vinhos da Quinta da Ramalhosa e o espírito criativo da Portugal Wine Firm (provar o Aires, Entrosado ou o Alfrocheiro) são de realçar.

Brancos a um nível altíssimo

Os brancos deixaram-me rendido e e todos os produtores, praticamente, mostraram referências de grande nível. Vamos agora falar de alguns destaques nos vinhos brancos. Como só posso falar do que provei. Os meus 10 preferidos (sem repetir produtores):

Titan of Douro Daemon 2019

Giz Branco Vinhas Velhas 2020

Quinta do Regueiro Jurássico II

Ayres – Portugal Wine Firm

Vinha Centenária Azores – Azores Wine Company 2019

Raríssimo 2015

Somnium 2014 (ou 2017)

Cinética Alvarinho | Loureiro 2019

Sem Igual 2017

Vale dos Ares Vinha da Coutada 2018

Novidades a seguir e outros vinhos brancos a seguir

Joaquim Arnaud Lisboa – (os vários Alvarinhos)

Vinho Verde Young Project (VVYP Signature)

Valtuille (Bierzo – Espanha) 2020

Quinta de Santiago Vinha do Chapim 2020

Quinta do Paral Vinhas Velhas 2017

Quinta da Biaia Fonte de Vila 2015

Quinta do Regueiro Maturado 2019

Casal das Aires Chardonnay 2019

Casa do Capitão-Mor 2019

Quinta da Ramalhosa Field Blend White 2018

Casas Altas Pure

Vinha Canada 2018 – Azores Wine Company

Insignis Portugal Wine Firm Encruzado 2019

A elegância e a frescura nos vinhos tintos

Nos vinhos tintos, talvez a maior surpresa e admiração vai para vinhos menos extraídos, mais elegantes, frescos, com menor grau alcoólico. Uma tendência que me agrada cada vez mais, e que acredito que irá convencer os consumidores mais reticentes. Apesar de cor menos profunda e textura mais delicada, estes vinhos revelam-se na acidez e a tanino que apresentam.

Os meus 10 preferidos de ontem (Sem repetir produtores):

Giz Vinha das Cavaleiras 2018

Toroa 2014 Pinot Noir – Cizeron Wines – Nova Zelândia

Casal das Aires Vinhas Velhas 2019

Casa de Saima Baga Garrafeira 2015

El Rebolón Mengoba (Mencía) – Espanha 2018

Raríssimo (ano a confirmar)

Bluníssima Aragonez 2017

Quinta da Costa do Pinhão – Marufo 2019

Vieira de Sousa Tinta Francisca 2020

Titan of Douro Vale dos Mil 2019

Novidades a seguir e outros vinhos tintos a seguir

Quinta da Costa do Pinhão Peladosa (ano a confirmar)

Giz Vinhas Velhas 2018

Clos Fonte do Santo – Quinta do Javali 2019

Portugal Wine Firm Alfrocheiro

Lote 5 Grande Reserva 2014

Cinética 2018

Vieira de Sousa Rufete 2020

Quinta da Ramalhosa Alfrocheiro/Touriga Nacional 2017

Portugal Wine Firm – Entrosado 2017

Somnium 2019

Espumante e Rosés

Nos espumantes, além do Raríssimo 2006, outra ótimas opções para são o Giz Cuvée de Noirs 2018 (muito elegante) ou o Conde de Anadia Assemblage – Blanc de Noirs. Nos rosés, as minhas preferências recaem no Rosado 2020 da Quinta Costa do Pinhão (ainda que ainda precise de respirar) e no Giz Vinhas Velhas Rosé 2018 (ainda que o 2017 me agrade mais).

Notas Finais

Foi uma grande tarde de provas, só ficou a falar mais tempo para poder provar tudo. Importa sublinhar que praticamente não provei vinhos fortificados, e não visitei alguns produtores, ou as visitas foram apenas parciais, já que em alguns casos já conhecia a gama de vinhos.

Não visitado: Blackett, Quinta dos Abibes, Quinta das Bágeiras, Quinta do Gradil, Villa Oeiras, Quinta de Pancas, Quinta do Tamariz, Quinta do Escudial, XXVI Talhas, Terras de Mogadouro, Poliglota, F Fita Preta, Maçanita (Douro).

Visita parcial: Quinta da Biaia (apenas um branco),) Quinta das Chaquedas, Casa Cadaval, Quinta da Costa do Pinhão, Titan of Douro, Conde de Anadia (apenas provado o espumante).

A Adega do Monte de Branco: caráter, loucura e alento

Vinhos com caráter é a promessa da Adega do Monte Branco e eu vou acrescentar com arrojo, presença criatividade, frescura e muito equilíbrio. O projeto de Luís Louro, iniciado em 2004, em Estremoz, partilhado na enologia com Inês Capão, traz-nos uma curiosa identidade, onde a potência e frontalidade, encontra a elegância e o refinamento. A sintonia entre os dois enólogos é indisfarçável e só torna os vinhos mais interessantes. 

Depois, de uma Wine Session há alguns meses, uma visita de amigos proporcionou um almoço inesquecível na Adega do Monte Branco, mas acima de tudo uma partilha com vista para a vinha e um conhecimento mais apurado dos vinhos. E é disso mesmo que vou falar e resumir as minhas preferências e indicações em 3 vinhos (ou 4 como irão ver).

Começar com Alento

A gama Alento marca o início da viagem pelos vinhos. Branco ou rosé? Para mim, claramente o branco 2020. Porquê? Porque é fresco, a acidez dá amplitude ao vinho na boca (imaginem que o vinho se abre na boca e percorre todo o vosso palato, ao mesmo tempo que sentimos notas cítricas e minerais (pedra molhada se preferirem) bem presentes, que dão um bom equilíbrio entre acidez e fruta. O que explica isto? O trabalho realizado na vinha, a vindima feita no tempo certo, solo calcário e, claro, a seleção de castas e a procura por uma identidade, um Alentejo de brancos que se deixa beber e que nos refrescam da cabeça aos pés. O facto de salientar o branco, não implica que não tenha gostado do Rosé, mas é preciso fazer opções. Nos tintos, o Alento Reserva é já uma ótima opção de um tinto com alguma potência e frescura que vai agradar a muitos, mas nos tintos a minha preferência cai noutro lado e numa gama mais acima – para apreciadores. O preço da gama Alento começará nos 7 euros, aproximadamente. O reserva andará pelos 12.

A loucura e genialidade

Se é o “grau de sucesso que separa a loucura de genialidade”, a série limitada LouCa (Louro+Capão), são projetos pessoais de cada um dos enólogos, onde há liberdade para cada um individualmente criar, experimentar, brincar e até provocar. Costumo dizer que a criatividade é um risco, nem sempre corre bem, mas é assim que evoluímos e descobrimos o que está para lá dos limites.

O LouCa 2017, que já tinha provado antes, é de chorar por mais. Tem o tal caráter, tem um volume de boca e uma espécie de untuosidade fresca, com uma amplitude e acidez incisivas. É tenso, viciante, mas não é agressivo e tem uma complexidade que nos faz descobrir aromas como lima (ou limão), maçã, favo de mela, especiarias como pimenta branco…enfim, não vos vou maçar, pois é um recital que cada pode descobrir. É um vinho de 28 euros que vale cada cêntimo. A edição é limitada. É um vinho extraordinariamente gastronómico, mas que saberá sempre bem simples, com um queijo e que dará origem a grandes conversas, ou que acompanhará bem o meditativo por do sol alentejano

O LouCA é para mim dos melhores vinhos brancos do Alentejo.

A potência e o equilíbrio

O Monte Branco 2017 tinto, se não considerarmos a edição comemorativa dos 10 anos, está no topo da lista dos vinhos da adega. Para mim, neste vinho é onde encontramos mais a marca de Luís Louro, pois a personalidade forte do enólogo está presente que alia a potencia e intensidade, a alguma acidez, fruta preta e algum toque de especiarias. Um vinho pleno de precisão, onde conseguimos definir em concreto cada nuance. O final é longo e persistente. A acidez presente vai pedir provavelmente um provador mais experimentado. Um grande vinho do Alentejo que nos consegue aliar a potência e intensidade de aromas, a um lado com mais charme. Em tom de brincadeira, mas falando bem a sério, é um vinho para quem sabe o que quer. Entre o 2016 e o 2017, prefiro o 2017. O preço rondará os 38 euros.

Se não conhecem este projeto, é obrigatório. A Adega do Monte Branco tem marcado pontos na exportação, mas está no momento de nós portugueses, conhecermos mais deste projeto. Se puderem, visitem, se não puderem então bebam, provem, partilhem. Eu recomendo.