Vinhos a recordar no Enóphilo 2022

Vamos ser claros: provar tudo, tudo, tudo no Enóphilo é impossível, se a isto somar a ida a duas maravilhosas provas comentadas, menos tempo fica para uma profunda e exaustiva prova de todas as referências. Difícil é escolher, tal a boa oferta. Ainda assim, foi profícuo (fiz o meu trabalho, ou prazer se quiserem) e acho que merece partilhar com vocês umas linhas sobre novidades, destaques e aquilo de que gostei mais e algumas descobertas. Vamos a isso?

Se o que é bom fica na memória, então começo pelo inesperado Quinta da Biaia Fonte de Vila 2017. Aquela tensão crocante, com uma profundidade de aromas cítricos e complexidade qb, fazem deste vinho uma experiência longa, aprazível e…viciante. Ronda os 35 euros, parece-me mais do que justo.

Passando agora a dois portentosos vinhos (Osvaldo Amado realmente não brinca em serviço), o Raríssimo Dão (2009) é um tratado de bem fazer bem. É profundo, elegante, camadas e camadas de saborosa complexidade entre fruta vermelha ainda com frescura e aromas ligeiramente tostados e de fruta em transformação. Escolher entre o Dão e o Bairrada/Baga tinto (2009) é díficil. O Baga é mais potente e oferece uma mordaz acidez, profundidade e aromas de fruta preta. Venha lá o diabo e escolha. O preço é para aficionados – ronda os 80/90 euros

Falando de elegância e vinhos que seduzem pela sensibilidade com que nos conquistam, o Casal das Aires Vinhas Velhas Branco 2019, é uma linda e inesperada opção. O preço de 40 euros ilustra a qualidade de um vinho que mostra finesse.

Se procuram o diferente e de fazer inveja a muitas referências do Douro, o Zuccaro 2018, podia ser um Brunello di Montalcino, só que não. É um grande trabalho, num vinho de estrutura, complexidade, que gosta e pede momentos importante e conversa séria. 60 euros o preço.

Se o prémio fosse precisão e pureza, então Carlos Raposo e o seu definido branco estava na linha da frente. Um grande vinho branco. Preço ronda os 25 euros. Aliás, todo o projeto se pauta por uma identidade e linha condutora, que qualquer vinho deste projeto merece ser provado e degustado.

Nos espumantes, o novo Terrunho d’ Alma 2018 , do enólogo, José Domingues está de uma elegância fantástica, a confirmar o grande trabalho feito no 2016. De chorar por mais, pela bolha elegante e frescura. Gostei muito do novo espumante do Joaquim Arnaud no qual sublinho a elegância da bolha e o equilíbrio em toda a linha. Grande trabalho. Os preços de ambos devem rondar os 15/20 euros. Não posso deixar de referir a consistência da Quinta dos Abibes Arinto & Baga, sempre equilibrado.

Pelo Dão, importa falar do excelente trabalho que continua a fazer João Gouveia Osório e a sua Portugal Wine Firm. O Ayres é um branco de uma frescura e mineralidade que nos atravessa, acidez fina e precisa. Tenho que mencionar o Invês, a parceria deste produtor com Henrique Cizeron (Cizeron Wines), um branco que apesar de jovem, mostra camadas e algum mistério. O Rosa da Mata Tinto/ Alfrocheiro está de beber por mais, difícil parar de beber esse vinho que está num momento fantástico, onde a fruta vermelha é elevada e bebida num misto de diversão e propriedade. Não posso deixar de mencionar, que o Primado 2012 (20 euros) é sublime e um vinho de enorme classe. Precisarão de duas garrafas.

“Constantino aquele Pét Nat Tinto, está bem bom”.

Ah, e coisas malucas e criativas? Vamos lá falar do trabalho do Constantino Ramos que não se cansa de nos fazer viajar pelas raízes. O Pét Nat tinto – que belo aperitivo, que fruta sedutora. Ótimo para quando não vos apetecer uma cerveja e querem algo diferente. O Turra Craft branco (11 euros) é também assim uma coisa muito fora do vulgar, meio experimental, mas onde o equilíbrio entre acidez e diferentes aromas se revela uma surpresa no palato. Outro marca que continua a fazer a diferença, é a Quinta Costa do Pinhão, onde para mim o ” Marufo” (17,5 euros) continua a ser uma delícia e um “personal favourite” (desculpem o anglicismo). Em modo fim de festa, ainda provei o Gutta Supera da Quinta do Paral que nos agarra pela viagem em nuances de fruta tropical e cítrica. (16 euros)

Nos Alvarinhos, o Regueiro Maturado (22/23 euros), o Afluente 2021 (este ano mais mineral/20 euros ), o Terrunho 2018 (18/20 euros), os Casa do Capitão-Mor (12/14 euros) & Quinta de Paços Alvarinho (muito elegente), e o Álvaro Pequenino de Joaquim Arnaud (12 euros), da região de Lisboa, foram as minhas preferências. Nos Loureiros (que in loco, deu uma disputa bem engraçada), eu aposto no arrojo cortante do Parapente (25 euros), no equilíbrio do Quinta do Hospital (8 euros), na rusticidade cítrica do Terrunho (7,90). O Cinética será um ótimo Loureiro, mas precisa de tempo. Neste projeto Henrique Cizeron, sublinho a incursão transmontana de Henrique Cizeron, que eu não conhecia, que oferece um jogo entre leveza e concentração de fruta que apetece saborear e faz salivar. (16/17 euros)

Uma palavra final, para as excelentes provas verticais da Quinta de Paços/Casa do Capitão-Mor, onde Paulo Graça Ramos nos ofereceu mais de duas décadas de viagem por Alvarinhos inesquecíveis e onde Joana Pinhão nos fez celebrar 10 anos de Somnium, nos cedeu um bocadinho do seu conhecimento e, já fora da prova, nos mostrou a novidade de solo Granítico que impressiona pela frescura.

Excelente organização, num evento que mostra crescimento e um trabalho cada vez mais apurado de Luís Gradíssimo.

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